De aluno a gerente-executivo: a história de Paulo Rech, que está há 40 anos no SENAI

8/01/2019   15h41

 

Paulo Rech foi quem a desenhou, limou, tirou do papel e a tornou realidade. Tinha 16 anos e era aprendiz de um curso de Ajustador Mecânico, oferecido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) de Criciúma (SC), quando desenvolveu a morsa que, hoje, ele pretende colocar dentro de um vidro, em cima de sua mesa no escritório acarpetado e com ar-condicionado no terceiro andar da sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que fica em Brasília, onde trabalha há 14 anos.

 

 Gerente-executivo de Projetos Especiais, Paulo Rech está no SENAI há 40 anos

 

Aos 63 anos, 40 dos quais dedicados ao SENAI, Paulo já assumiu postos diferentes na instituição e tem um currículo que soma 15 folhas de papel. Hoje, seu nome está impresso em um cartão de visitas onde se lê: “Gerente-executivo de Projetos Especiais”. Aliás, o trabalho de Paulo pode ser definido por hipérboles. Ele precisa gerenciar 2,5 bilhões de reais do Programa SENAI de Apoio à Competitividade da Indústria Brasileira, com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para concretizar 292 projetos, entre eles a implementação de 50 centros de formação profissional e de 19 Institutos SENAI de Inovação, além da aquisição de 85 unidades móveis.

 

Paulo sabe o quanto a educação profissional é importante para mudar um destino. “Se eu não tivesse feito um curso de aprendizagem, um curso técnico, não teria tido recurso financeiro para terminar meus estudos e chegar onde cheguei”, orgulha-se. Depois de se tornar aprendiz, engatou um curso técnico em Eletromecânica, foi professor e concluiu a faculdade de Administração. O caminho foi de dedicação e esforço até alcançar a cadeira que ocupa atualmente.

 

 

Naquele tempo, ele era um privilegiado por ingressar no SENAI. Não era filho de empregados da indústria, como os demais alunos. Aliás, só podia estudar ali justamente por ter perdido o pai, dono de uma oficina de ferraria que fabricava peças para as indústrias e morreu antes de saber que o filho trazia o mesmo talento nas mãos.

 

A mãe viúva ganhava a vida como costureira, mas não tinha como manter os oito filhos, menos ainda garantir os estudos dos meninos. Por isso, mandou Paulo e José, o primogênito, para o orfanato Bairro da Juventude. Foi graças a um convênio feito pelos padres com o SENAI que aqueles órfãos puderam pensar em um futuro profissional.

 

 Paulo Rech no Centro de Educação Profissional em Criciúma-SC, 1977

 

Com o primeiro salário de estagiário do curso técnico, Paulo comprou uma geladeira para a mãe. Também pintou as paredes da casa de madeira que tinha um bairro humilde como endereço. Depois, pagou uma televisão e, aos poucos, a vida da família foi melhorando, à medida que os estudos iam avançando.

 

Paulo quis retribuir a oportunidade recebida. Aos 21 anos, tornou-se diretor do orfanato que o acolheu e criou ali dentro uma escola técnica que ensinava, entre outros ofícios, mecânica, marcenaria e solda para cerca de 400 crianças. Logo, estava em sala da aula, quando foi Instrutor de Mecânica Geral no Centro de Treinamento do SENAI de Itajaí. “O papel do professor é ensinar e servir os outros”, tinha como lema.

 

Instrutor de Mecânica Geral no SENAI de Itajaí-SC, 1978

 

E tomou tal tarefa como meta de vida. Entre as muitas funções que assumiu dentro do SENAI, montou uma escola em Tubarão (SC); foi diretor de operações do SENAI do Amapá, onde coordenou por um período as atividades do barco-escola Samaúma; formou professores em todo o Brasil; assumiu a área de planejamento; foi diretor financeiro e diretor de Educação e Tecnologia. Ainda fez parte da equipe que elaborou a metodologia de educação profissional do SENAI; criou o Sistema SENAI de Certificação de Pessoas e preparou experts e avaliadores para as Olimpíadas do Conhecimento.

 

Paulo Rech também foi Diretor de Operações do SENAI Amapá

 

Depois de listar as inúmeras missões, retoma o fôlego e faz questão de se lembrar de mais uma: em parceria com o SENAI, inaugurou o Centro de Educação Profissional no Bairro da Juventude, aquele mesmo orfanato onde cresceu, estudou e se formou. “Eu sei a diferença que ser um aluno SENAI fez na minha vida.”