Entrevista – Amaro Sales: O EEBA é uma oportunidade de novos negócios

2/07/2018   14h09

 

O anúncio oficial de Natal como sede da 37ª edição do Encontro Econômico Brasil Alemanha, em outubro de 2019, encerrou as atividades do EEBA, em Colônia, Alemanha, semana passada. A comitiva potiguar de empresários, dirigentes da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (FIERN) e Federação do Comércio, Bens e Serviços (Fecomércio/RN) foi capitaneada pelo presidente da Fiern, Amaro Sales de Araújo.

 

A troca de experiências profissionais em vários campos da indústria e da educação, além dos diálogos em torno do fechamento de novos negócios e parcerias entre empresários alemães e brasileiros pautou o Encontro no país europeu. O potencial de desenvolvimento ainda não explorado no Rio Grande do Norte foi apresentado na ocasião e despertou interesse do empresariado europeu, que visitará a capital potiguar em outubro do próximo ano.

 

Na entrevista a seguir, Amaro Sales detalha o EEBA 2018, analisa o atual momento da economia nacional e projeta crescimento em alguns setores da economia local. Acompanhe.

 

Qual avaliação o senhor faz dessa edição do EEBA? O que será importado do evento e colocado em prática no Rio Grande do Norte?

 

O evento tem um saldo bastante positivo. Como representante da indústria do Rio Grande do Norte e do Nordeste, representamos mais 55 milhões de pessoas e que, mesmo com a recessão, tem conseguido manter o crescimento do PIB da região favorável. Quando participamos de um encontro como este Brasil-Alemanha, temos a oportunidade de aprender com os alemães, que têm uma história de liderança, disciplina e excelência, além da troca de tecnologias, educação.

 

Como os empresários alemães e de outros países europeus avaliam o potencial de exploração do RN no campo das energias renováveis? Eles pretendem instalar parques eólicos e fotovoltaicos no estado? Quais empresas se inclinaram mais a isso?

 

O Rio Grande do Norte é o estado que mais produziu energia usando a força da natureza, dos ventos. São, aproximadamente, 3.678,85 MW de capacidade instalada. E muito mais a ser feito. Conseguimos também viabilizar a questão de infraestrutura para escoar a energia gerada, precisamos avançar mais. O EEBA é uma oportunidade para se debater desafios e alternativas, prospectar negócios, conhecer modelos que deram certo, avaliarmos em que o Brasil pode aprender e ter cooperação do know how da Alemanha. A questão de infraestrutura e energia foi, inclusive tema de um dos painéis em que ficou claro por parte do diretor de parcerias do Ministério dos Transportes (MPTA), Fabio Lavor, que o caminho são parcerias com o setor privado. A realização do EEBA em Natal será uma grande oportunidade também para que investidores conheçam mais de perto nosso potencial, queiram abrir filial em Natal, seja em parques, fábricas de equipamentos, pás, geradores.

 

Quais são os benefícios para o RN dessa parceria firmada entre a Fiern e os empresários alemães? Já existem resultados palpáveis?

 

O estreitamento das relações comerciais e industriais entre o Rio Grande do Norte e a Alemanha, com a oportunidade de negócios que se abre tanto em exportações, internacionalização de empresas, troca de experiências, transferência de tecnologia.

 

A partir do estreitamento das relações comerciais e industriais entre o RN e a Alemanha, o senhor acredita que o estado se desenvolverá mais em quais setores e a partir de quando?

Nós já temos cooperação com a Alemanha há bastante tempo. A FIERN mantém parcerias em diversos programas com a Alemanha, trazendo consultores especialistas de áreas variadas para fazer diagnósticos, melhorar processos, inovar e assim colaborar com a competitividade da nossa indústria. A FIERN junto com o SENAI tem parcerias no Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis com algumas empresas alemães. Temos projetos encomendados e realizados. Temos experiências com tecnologia advindas dessas parcerias com o Instituto alemão, como desenvolvimento de equipamento de energia solar para uso em dessalinizadores de água, experiência na carcinicultura, com o resíduo do camarão transformado em biodigestor. Ou seja, temos algumas sinergias. Ao mesmo tempo que aprendemos, também desenvolvemos juntos pesquisa, inovação, educação. O sistema dual de educação na Alemanha é um modelo a seguir. O SENAI e o SESI dão sua contribuição na formação pessoal e qualificação profissional, unindo o ensino técnico. Afora isso, temos uma vocação para as energias eólicas e fotovoltaica, para o turismo, mineração, petróleo e gás, fruticultura, pecuária, carcinicultura que também poderão ser beneficiadas.

 

Em relação à realização do EEBA 2019 em Natal, quais são as expectativas e o que a Fiern pretende expor aos empresários internacionais na ocasião?

 

O 37º EEBA trará a Natal lideranças empresariais da área industrial e autoridades governamentais do Nordeste, do Brasil e da Alemanha e tornará Natal ainda mais conhecida dos alemães e com fundadas possibilidades de recepcionar investimentos diretos ou em parceria com grupos locais. É uma oportunidade de novos negócios, parcerias e cooperação com entidades alemãs e do Nordeste brasileiro. Ficamos muito entusiasmados com a escolha para sede de um evento deste porte, considerado a principal conferência da indústria dos dois países. O Rio Grande do Norte seguramente oferece grandes, diversas e ainda não exploradas chances para investidores internacionais, particularmente para os alemães que, em Natal, contarão com o apoio de nossas instituições, do consulado alemão e do rápido acesso às autoridades locais. Temos um extraordinário potencial turístico e matriz econômica diversificada que fazem do Nordeste e do Rio Grande do Norte as novas fronteiras para o desenvolvimento nacional. Entendemos que estamos levando com o EEBA 2019, oportunidade não só para o Rio Grande do Norte, mas para o Nordeste, uma região que tem condições de ofertar parcerias e fazer negócios com os empresários alemães.

 

Em relação à indústria nacional, o mês de maio foi fortemente negativo para o setor em decorrência da greve dos caminhoneiros. O senhor defende o tabelamento do frete? Como essa situação deverá ser tratada em âmbito nacional?

 

A greve dos caminhoneiros afetou a indústria fortemente em todo o Brasil. O aumento médio no custo do frete para a indústria é de 38% e em alguns casos chega a 250%. Ou seja, impraticável para a indústria arcar. E que implica em aumento geral de preços para a população brasileira, em função da alta dependência do transporte rodoviário. O tabelamento é um retrocesso sem precedentes, que não resolve o problema do excesso de caminhões e ainda causa grande prejuízo pra indústria, para economia do país, para a sociedade. E no Rio Grande do Norte também tivemos um forte impacto. Levantamento feito pelo nossa Unidade de Economia, agora no final de maio, junto a importantes segmentos industriais do estado, aponta que entre os setores mais impactados estão o sucroalcooleiro com 90% das vendas prejudicadas, a indústria de sal marinho teve a totalidade das vendas prejudicadas, o setor cerâmico também 100% das vendas e cerca de 60% da produção, afetou 80% da produção de sorvetes e polpas de frutas e até 40% da produção de laticínios. Ou seja, um prejuízo enorme para setores que já vem enfrentando o peso da crise. Entendemos que precisa ser suspensa essa medida. E a CNI ingressou no Supremo Tribunal Federal (STF), com uma ação direta de inconstitucionalidade (Adin) contra o tabelamento dos preços de fretes do transporte rodoviário de cargas, porque viola a livre concorrência, ao princípio da livre iniciativa, com consequências negativas para o mercado.

 

Quais são suas expectativas para a indústria e economia brasileiras para o resto deste ano? Vislumbra melhorias?

 

Tivemos uma recuperação com o aumento da confiança dos empresários depois da mudança de governo, mas ainda há um longo caminho para o país voltar a crescer. E esse caminho passa pelas reformas. Já tivemos um avanço com a modernização das leis de trabalho, que flexibilizou as relações de trabalho, deu melhores condições para voltar a contratar, reduziu a insegurança jurídica com a alta judicialização de ações trabalhistas. Mas é preciso mais. É preciso que o Governo implemente as reformas da previdência, tributária e fiscal no país. Esta, inclusive, é uma preocupação apontada pelos debatedores, empresários e especialistas que participaram do EEBA, aqui em Colônia (Alemanha), e não só os brasileiros. É uma preocupação citada pelos alemães a necessidade de equacionar o problema do sistema previdenciário que é deficitário e simplificar e tornar mais claro o sistema fiscal e tributário do Brasil. Acredito que essas reformas São fundamentais para a retomada da economia. Em meio a essas incertezas em relação às eleições e ao ajuste das contas públicas, a estimativa é que o Produto Interno Bruto (PIB) do país crescerá apenas 2,6% e o PIB da indústria, 3%. Mesmo com o cenário externo favorável, a queda da inflação e a redução dos juros, o ritmo de recuperação da economia é moderado e o país não conseguirá recuperar, no médio prazo, as perdas causadas pela recessão. Esperamos que, com a definição do cenário político, após as eleições, possamos vislumbrar crescimento a partir do próximo ano. Isso vai depender que o novo governo tenha a coragem de implementar as reformas necessárias para o país voltar a crescer.

 

E em relação ao RN, o senhor acredita na ampliação da produção industrial local neste ano? Em quais segmentos?

 

Devemos ter um crescimento, mesmo que pequeno dentro desta média nacional. Mas, neste cenário de incertezas política e econômica, não temos como falar em ampliação em escala. A própria economia vem num crescimento lento. Manter a produção, os empregos, diversificar produtos, inovar processos, tem sido o principal desafio que, mesmo com todas estas dificuldades e cenário de recessão, os heróis da resistência do nosso estado têm conseguido superar.

 

FONTE: TRIBUNA DO NORTE (01.07.2018)