“Indústria 4.0” é tema de evento gratuito do SENAI dia 12 na Casa da Indústria

3/09/2018   10h55

 

O jornal O Estado de São Paulo publicou nesta segunda-feira, 03, reportagem sobre a revolução que a chamada Indústria 4.0 está provocando nas profissões e na empregabilidade. A questão vem merecendo atenção especial do Sistema Indústria e no dia 12 de setembro o SENAI realizará o evento “Entendendo a Indústria 4.0”, com videoconferência, palestra presencial e debates. A programação, gratuita, começa às 18h30, no Espaço Candinha Bezerra (Casa da Indústria), com transmissão simultânea para as Unidades Operacionais de Santa Cruz, Caicó e Mossoró. Esse evento integra o programa “Desvendar 4.0”, que assegura oportunidade para que as indústrias possam aprimorar o entendimento sobre esse novo cenário.

 

LEIA ABAIXO A REPORTAGEM PUBLICADA PELO ESTADÃO

 

Revolução digital transforma o emprego

 

A empresa de cobrança Acordo Certo fecha, por mês, 30 mil renegociações de dívidas. Entre seus clientes estão Santander, Claro e Porto Seguro. Em vez de reunir uma legião de pessoas ao telefone, freneticamente ligando para clientes, o negócio fundado por Dilson de Sá se resume a 12 pessoas, alguns laptops e um monitor que indica em tempo real os resultados obtidos. Recentemente, ao contratar a Acordo Certo, um cliente reduziu 700 postos de atendimento de telemarketing, disse Sá ao ‘Estado’.

 

A Acordo Certo resume a redução do emprego na era digital: com o uso da inteligência artificial, renegocia dívidas com robôs que “dialogam” com devedores – a empresa utiliza uma combinação de ferramentas desenvolvidas por Google, Microsoft e IBM. São sistemas como esses que podem pôr em xeque o futuro de diversas profissões na próxima década. Segundo estudo da Universidade de Oxford, o telemarketing está no topo dessa lista, seguido de perto por vendedores de varejo, contadores, auditores e outros profissionais da área administrativa.

 

No Brasil, segundo a consultoria McKinsey, 14% dos postos de trabalho atuais – ou 15,7 milhões de vagas – podem desaparecer até 2030. É um desafio e tanto, uma vez que o País já tem desemprego superior a 13%. Entre os jovens de 18 a 24 anos, a taxa quase dobra. A McKinsey também alerta que o País está pouco preparado para as vagas que podem ser geradas pela economia digital, pela falta de preparo da força de trabalho. “As pessoas devem pensar em migrar para atividades que não possam ser facilmente automatizadas”, recomenda Fernanda Mayol, sócia da companhia.

 

Apesar de o telemarketing liderar a lista de risco de estudos internacionais, a Associação Brasileira de Telesserviços (ABT), que congrega as companhias do setor, não vê riscos tão sérios à atividade. Os números da própria ABT, porém, apontam para um corte de quase 80 mil vagas no setor em 2017.

 

O diretor executivo da entidade, Cassio Azevedo, associa os fechamentos de postos de trabalho no ano passado à retração da economia em 2015 e 2016, e não à digitalização. Em relação à substituição dos atendentes por máquinas, ele recorre a uma análise histórica: “A substituição do homem (pela tecnologia) é uma questão desde o surgimento da máquina a vapor”.

 

Atividades que já foram substituídas em outros países

 

Enquanto algumas profissões estão em xeque em todo o mundo, a tecnologia também ameaça atividades que já foram substituídas em outras nações, mas que, por razões culturais e de segurança, ainda são comuns no Brasil.

 

A ferramenta de portaria eletrônica da Kiper, que concentra as demandas de visitantes, correio e de caminhões de mudança em uma central, está fazendo com que um só profissional seja responsável por monitorar de 8 a 12 edifícios, e não apenas um.

 

A companhia fornece o sistema para administradoras de condomínio espalhadas pelo Brasil. Uma dessas centrais, nas quais o porteiro vigia uma série de telas com imagens de câmeras de segurança, fica no bairro da Liberdade, na capital paulista. “A ociosidade desse profissional diminui muito durante o trabalho”, diz Odirley da Rocha, sócio da Kiper.

 

Mas, sem um porteiro por perto, como receber encomendas e fazer mudança? Rocha diz que, para os Correios, a Kiper desenvolveu um sistema de armários inteligentes, que podem ser abertos remotamente, e geralmente são posicionados no antigo local da portaria. Em dia de mudança, o morador poderá liberar a entrada e saída do prestador de serviço – após o período determinado, a senha de acesso vence automaticamente.

 

Brasil vive dilema da falta de capacitação

 

O desafio do emprego é mundial e afetará desde pequenas economias até potências globais. Embora as nações emergentes tenham a vantagem de oferecer mão de obra mais barata – o que levará a um processo mais lento de substituição de pessoas por máquinas ou ferramentas de inteligência artificial –, nações como o Brasil perdem no quesito qualificação. E, segundo especialistas, só ações de treinamento garantirão que o País possa gerar, nos próximos anos, vagas para atividades que hoje inexistem.

 

Embora já seja possível perceber o fechamento de vagas em setores que concentram grande quantidade de mão de obra no País, a corrida pelo conhecimento para postos mais qualificados caminha em velocidade inferior à de outras economias, incluindo latino-americanas. Hoje, 68% dos executivos brasileiros dizem ter dificuldade para achar pessoal qualificado para posições-chave. É um índice bem superior ao que se registra na Argentina (40%), na Costa Rica (40%) e no México (38%), aponta a McKinsey.

 

“A situação do mercado de trabalho é complexa”, diz Paulo Feldmann, professor de Economia da Universidade de São Paulo que se dedica à questão da automação há mais de 30 anos. “As funções que têm um padrão claro na tomada de decisões poderão ser substituídas por um computador.”

 

Enquanto há quem argumente que o homem sempre tenha conseguido manter sua relevância ao longo de séculos de inovações tecnológicas, Feldmann afirma que a situação atual representa uma clara ameaça à relevância humana. “Estamos falando de uma geração muito mais sofisticada de robôs e de softwares de inteligência artificial de alta capacidade cognitiva”, diz o professor da USP.

 

A escassez de empregos já faz estudiosos de todo o mundo pensarem em alternativas à geração de renda tradicional. Feldmann diz que, entre as possibilidades aventadas, estão a redução da jornada de trabalho – remédio que, segundo ele, já se revelou pouco eficaz – e a criação de programas de renda mínima. “É preciso debater a questão, pois os efeitos sociais da falta de atividade são seriíssimos.”

 

Enquanto se queixam da falta de preparação do trabalhador, as empresas brasileiras investem pouco na própria mão de obra. Um levantamento da Accenture mostra o Brasil na “lanterna” quando o assunto é a intenção de ampliar os esforços internos de capacitação de profissionais. A pesquisa mostra que, atualmente, 51% das companhias nacionais pretendem ampliar o valor aplicado em treinamentos. É um número inferior a mercados desenvolvidos, como EUA (72%) e Reino Unido (79%). O Brasil também perde para emergentes como a Índia, onde a intenção de ampliar os valores aplicados em recursos humanos é de 66%.

 

As vantagens competitivas do Brasil

 

Apesar da pouca disposição das empresas locais em investir nos funcionários e de dados da McKinsey apontarem a possibilidade de eliminação de até 14% dos empregos nacionais nos próximos 12 anos, a Accenture vê algumas vantagens competitivas do Brasil nessa nova era dos empregos digitais, como a força de trabalho relativamente jovem, a capacidade de enfrentar crises e de adaptação a dificuldades.

 

Embora admita que existe um forte desafio de base educacional no País, Matthew Govier, diretor executivo da Accenture Strategy, pondera que a presença do brasileiro em meios digitais e a tendência ao empreendedorismo podem ajudar o trabalhador local nessa “passagem” para a era da inteligência artificial. “Acredito que o processo (de substituição tecnológica) será gradual.”

 

A McKinsey também cita a presença do brasileiro na internet, especialmente em redes sociais, como possível fator positivo nessa “ponte” para a economia digital. Sócia da McKinsey, Fernanda Mayol ressalva, porém, que o tempo online precisa ser gasto em plataformas profissionalmente úteis, que permitam troca de informações e acesso a tendências de mercado. “Já se sabe que no futuro todos os profissionais terão de se reinventar três vezes na carreira.”