Novo ensino médio é inclusivo para a juventude, diz diretor do SESI e do SENAI

15/03/2019   20h59

 

A implementação do novo ensino médio foi o tema central do seminário Educação 360 Jovem Tech, evento promovido pelo jornal O Globo em parceria com o Serviço Social da Indústria (SESI) e Colégio P.H. As quatro mesas de debates, formadas por especialistas em educação e estudantes, ocorreram na sexta-feira (15), no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro.

Embora o novo ensino médio esteja em implementação em algumas escolas brasileiras e já tenha normativas do Ministério da Educação (MEC), como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e as diretrizes curriculares, ainda há dúvidas e resistências. Principalmente, em relação ao modo de condução das discussões sobre o modelo e como se dará a aplicação para realidades educacionais tão diferentes existentes no Brasil – das sociais às territoriais.

 

Representando o SESI e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Rafael Lucchesi foi enfático em defender a mudança nessa fase de ensino brasileiro durante a sua participação no painel Formação para o Trabalho. Segundo Lucchesi, que foi o relator da reforma do ensino médio no Conselho Nacional de Educação (CNE), o ensino médio brasileiro da forma atual contribui para o crescimento da geração dos “Sem-sem” no Brasil – os jovens sem estudo e sem trabalho. O termo é uma derivação da geração “nem-nem”, jovens que não trabalham, nem estudam.

 

Ainda de acordo com Lucchesi, que é diretor-superintendente do SESI e diretor-geral do SENAI, a escolaridade brasileira média de 8 anos é baixa, em comparação com outras nações. Essa escolarização mínima brasileira foi atingida apenas no início do século XXI, quando em nações desenvolvidas, o índice foi alcançado no século anterior.

 

Ele destacou ainda que 80 milhões de brasileiros não têm, sequer, o ensino médio, e, com isso não conseguem ingressar no mercado de trabalho de forma eficiente, o que contribui para a baixa produtividade do trabalhador. São necessários quatro trabalhadores para fazer o mesmo serviço de um norte-americano, por exemplo. “O ensino médio brasileiro da forma como está é elitista, anacrônico e precisa dessa transformação inclusiva, sobretudo, para a juventude”, ressaltou.

 

 

Ana Inoue, assessora de Educação do Itaú, seguiu a linha de raciocínio de Lucchesi. Segundo ela, foi necessário repensar o ensino médio brasileiro, uma vez que os dados mostram que 92,7% dos alunos não têm o desempenho adequado em matemática. Em português, o índice é de 72,8%. Além disso, no Brasil, 83,2% dos concluintes do ensino médio não entram na universidade. Por isso, ela defende a inclusão do itinerário de formação profissional no ensino médio, conforme prevê a reforma.

 

“A gente não tem vaga para todo mundo. O que o Brasil está oferecendo para os 83% de estudantes que não entram na universidade?”, questionou. “Precisamos desapegar dessa ideia rançosa que falar de trabalho para o jovem é diminuir o exercício de cidadania. É o contrário. A gente defende um ensino médio emancipatório”.

 

DESIGUALDADES- A diretora do Instituto Inspirare, Ana Penido, acredita que os itinerários formativos no novo ensino médio são um ganho para a formação do ensino médio. No entanto, ela tem dúvidas sobre como o texto das normativas será aplicado em um país como o Brasil, com tantas desigualdades sociais, econômicas e territoriais. “Eu costumo dizer que o diabo mora na implementação. O papel aceita tudo. Nós temos que ser criteriosos na hora de implementar”, argumentou.

 

Ana Penido lembrou que as escolas podem ter dificuldades de executar os itinerários: existem municípios que têm apenas uma escola de ensino médio e que não terão condições de oferecer todas as possibilidades previstas em lei. O mesmo pode ocorrer em escolas públicas em regiões mais carentes. Essa situação pode manter a desigualdade no ensino.