“O MAIS RN representa, antes de tudo, uma agenda daqueles que acreditam no RN e no futuro desse estado”, diz Amaro Sales

18/07/2022   10h44

Lançado em 2014, pela Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (FIERN), o Mais RN completa oito anos nesta segunda-feira, 18 de julho. Criado como um observatório da indústria e um mapa de oportunidades de negócios, potenciais econômicos e ações prioritárias – em âmbito público e privado -, o programa listava uma série de ações e metas para viabilizar, em 20 anos, um novo patamar de crescimento econômico do Rio Grande do Norte, sendo apresentado a gestores públicos.

 

Hoje, o MAIS RN tornou-se um núcleo de pensamento e planejamento estratégico contínuo da FIERN e atua como uma unidade de inteligência e pensamento com ações voltadas para o desenvolvimento da economia e das políticas públicas do estado, em parceria com instituições de ensino e pesquisa, com o poder público e com empresas e organizações privadas.

 

“O MAIS RN é, antes de tudo, um Norte para o desenvolvimento do Rio Grande do Norte não só olhando para o curto prazo, mas olhando para o potencial que esse estado representa no longo prazo já que em 2035 é o horizonte do nosso planejamento”, destaca o presidente Amaro Sales de Araújo. “O MAIS RN representa, antes de tudo, uma agenda daqueles que acreditam no Rio Grande do Norte e no futuro desse estado”, destaca.

 

Nessa entrevista, o presidente da FIERN analisa a trajetória e os avanços do MAIS RN ao longo desse período. Confira.

 

Amaro Sales, presidente da FIERN

 

O MAIS RN iniciou em 2014, como um programa de estudo técnico, que vem sendo atualizado ao longo desses oito anos e passou a ser Núcleo de planejamento estratégico para o desenvolvimento do RN. Como o senhor avalia essa trajetória e evolução?
O Mais RN nasceu como um documento, um diagnóstico prospectivo para traçar cenários, mapear ações, definir agendas e parcerias com universidades, com o Sistema S, indústrias e o governo como atores importantes. A evolução se deu de documento para um núcleo que pensa e planeja estratégias para a economia do Rio Grande do Norte. Esse núcleo passou a colaborar com a proposição de alternativas ao desenvolvimento do nosso estado. Para isso, começou a fundamentar indicadores, inteligência de dados. Então, é uma trajetória exitosa desde o documento, lançado há 8 anos, até se tornar um núcleo de inteligência com uso de tecnologia BI (business inteligence). Fizemos a atualização daquele documento de 2014 e um acompanhamento contínuo de indicadores econômicos e sociais, que são atualizados e sistematizados em uma plataforma digital, com grupos de trabalho e as salas de situação muito mais flexível e adaptável. Nessa migração do físico para o digital é interessante notar que, como ocorrido em outras Federações que criaram, no passado, núcleos como o MAIS RN, hoje, se estruturam em observatórios. E o caminho que o MAIS RN vem tomando é exatamente esse de ser um observatório propositivo com base em tecnologia e equipes multidisciplinares atuando não só para empresas, sindicatos, segmentos econômicos, mas também cooperando com políticas públicas através das secretarias de governo municipal, estadual e federal.

 

Quais os principais destaques da atuação do MAIS RN nesse período?
Os destaques que a gente pode dar é a nossa participação na proposição do PROEDI, da recente Lei do Gás, da criação do Fórum Potiguar de Petróleo e Gás participando da mesa REATE do governo federal, das parcerias que firmamos com a Sudene e com o Ministério do Desenvolvimento Regional para o desdobramento em grandes projetos transformadores do Rio Grande do Norte. Muito alinhado com o que a Sudene publicou do Plano Regional de Desenvolvimento do Nordeste. A operacionalização disso é feito, hoje, oficialmente no MAIS RN.
Transformação digital é outro destaque. Sair do documento de 400 páginas para aproximadamente 40 plataformas digitais que são fáceis de navegar, atualizadas mês a mês pela equipe capitaneada por Marcelo Rosado, José Bezerra Marinho e Pedro Albuquerque.
Os grandes destaques são essas transformações e a inserção do MAIS RN como atividade de suporte ao Sistema Indústria, uma vez que o MAIS RN começou a ajudar a unidade de Mercado, parceria com Unidade de Economia Estatística, o Espaço Empresarial, através do NAC e Centro Internacional de Negócios, Espaço Sindical, são pontos importantes dessa evolução.

 

E quais os desafios?
Um dos desafios do MAIS RN é a inserção das agendas propositivas, elaboradas pela FIERN por meio do MAIS RN, a partir do mapeamento de oportunidades, definição de prioridades, mobilização de setores e atores no cotidiano das pessoas e no planejamento do desenvolvimento sustentável do estado. É transformar uma agenda técnica econômica em um discurso político, propositivo para a população se apropriar dele, a sociedade civil organizada, as mídias, os formadores de opinião. O desafio sempre foi fazer com que a população se aproprie desse debate técnico para que possa acompanhar, cobrar e entender melhor como se forma a economia do nosso estado.
Do ponto de vista empresarial, há as mobilizações em torno das agendas propositivas, para junto com os sindicatos da indústria e seus associados desenhar estratégias, transformar ideias em projetos.
Esses são grandes desafios, mas também são as grandes linhas de ação.

 

Como surgiu a iniciativa de transformar em uma plataforma digital?
A ideia da transformação digital surge à medida que a gente percebe que os números são atualizados, a realidade se transforma. O documento é muito importante, é um marco, um registro histórico, ele é simbólico. Tanto é que as pessoas vêm à Federação e perguntam se podem receber o livro, querem uma cópia física. Mas para o dia a dia e a operacionalização do trabalho, a plataforma digital é uma condição, uma premissa básica agora. A gente fala em transformação digital, internet das coisas, indústria 4.0 e não tinha como MAIS RN ser diferente disso. A gente precisa entrar também nesse movimento de informatização das coisas e virtualização da realidade. Foi um movimento natural para dar esse salto. E a pandemia acelerou enormemente esse movimento. Em 2019, tínhamos planejado essa transformação, lançar a versão digital, mas quando a pandemia inicia o MAIS RN promove uma Sala de Situação, que é um espaço de debate para encontrar soluções e saídas para os empresários naquele momento de dificuldades inédito em todo mundo. Ainda não existia o acompanhamento em plataforma da pandemia no Rio Grande do Norte e havia a necessidade do acompanhamento em tempo real dos dados da saúde social, mas também da economia.

 

A plataforma Mais RN 4.0 – Covid no RN trazia dados sobre o número de casos de covid, leitos e também os indicadores econômicos…
Conseguimos dividir tarefas e criar grupo de trabalho específico para trabalhar a inteligência da pandemia no Rio Grande do Norte. O LAIS da UFRN ficou com a parte sanitária dos indicadores numa parceria com o LACEN. O MAIS RN começou a acompanhar a parte de arrecadação fiscal, economia, emprego, empresas, fechamento, sondagens da cadeia produtiva, perspectiva de investimento, quanto tempo conseguiria resistir até fechar as empresas. Foi feito um trabalho de sinergia, ganhamos a confiança dos parceiros externos como a Secretaria de Saúde, de Tributação, Desenvolvimento Econômico. A própria sociedade passou a reconhecer o MAIS RN como um centro gerador de informação confiável. E o nosso processo de digitalização e power BI precisou ser rápido porque a pandemia é urgente e não tínhamos tempo a perder. E isso nos levou a ser o único estado do Brasil que conseguiu pactuar uma metodologia de trabalho que minimizasse o conflito entre empresas e o governo, por conta dos decretos de fechamento, e a lançar uma agenda de retorno gradual da economia pactuado também. Um caso de sucesso. A FIERN já foi chamada para falar desse caso na CNI, na OAB e outros estados também se espelharam em nós para poder criar a metodologia de trabalho e enfrentamento.

 

E resultou no Plano de Retomada da Economia do Estado, desenvolvido pela FIERN, por meio do Mais RN, em parceria com o setor produtivo. Como senhor avalia essa contribuição e quais os resultados?
Conseguimos construir informação com metodologia, dados confiáveis e, acima de tudo, com diálogo aberto, honesto, transparente com todos os setores produtivos. Uma prioridade da Federação nesse sentido e o MAIS RN ficou com a responsabilidade de tocar essa agenda, de analisar realidade a partir de um aspecto socioeconômica porque a pandemia é social e econômica. É saúde, a questão sanitária, e é econômica. No diálogo com várias empresas e industriais de segmentos diferentes, o MAIS RN conseguiu captar e sintetizar o que era necessário para aquela atividade correr com segurança, tudo sabatinado pelo Ministério Público do Trabalho, Ministério Público Federal, Defensoria Pública e o Comitê Científico do Estado e, uma vez sabatinado por esses órgãos, é que as proposições se tornavam oficiais. Com a produção de documentos técnicos de qualidade, sustentável e capacidade analítica voltada para identificar qual é a prioridade econômica, qual a especificidade do setor e como traduzir isso em um plano capaz de, aprovado pelos órgãos federais, estaduais de fiscalização, retomar as atividades. E o resultado foi a continuidade das atividades da indústria durante a pandemia sem precisar fechar, com índices de transmissão, infecção nesses ambientes de trabalho muito abaixo da média de outros estados e ainda minimizar os efeitos da sucessão de decretos e insegurança jurídica. Conseguimos transpor tudo isso e o MAIS RN foi o núcleo técnico que congregava parceiros e fazia informação se transformar em projeto.

 

Além disso, desenvolveu uma Agenda Propositiva para o Desenvolvimento do RN, entregue ao Governo, em outubro passado, e debatido com gestores públicos estaduais, municipais e com a iniciativa privada…
O MAIS RN desde 2014 sempre se pautou em uma agenda de colaboração. Ela nasce primeiro com foco numa agenda estadual, muitas das ações eram voltadas para competências estaduais. O foco nos parques industriais, na infraestrutura, logística e conectividade desses parques. O estudo de vocações regionais e interiorização da indústria, do desenvolvimento não só das vocações regionais, como também dos setores de Confecção, Têxtil, Pesca, Mineração, Petróleo e Gás, Energias Renováveis, além do impulsionamento dos setores do futuro como tecnologia da informação, parque tecnológico, serviços avançados. Muito disso era voltado para o governo do estado. Em seguida, propomos trabalhar na ponta que são os municípios e, em 2019, lançamos o projeto “MAIS RN e o Desenvolvimento Municipal” e trouxemos para a Federação das Indústrias quase a totalidade dos 167 municípios, com prefeitos, secretários de desenvolvimento ou de infraestrutura e, juntos, começamos a construir uma agenda de desenvolvimento municipal, que, na sequência, foi inserida na agenda da Confederação Nacional da Indústria, do setor da RelGov, de relações com o governo. E com o processo de digitalização e MAIS RN 4.0, as plataformas municipais, com mapeamento, sistematização de dados municipais e fornecemos isso gratuitamente para aqueles prefeitos e secretários que queriam desenvolver suas cidades, fazendo uma relação de sinergia entre as agendas locais e estaduais voltadas para o desenvolvimento sustentável do estado. Em 2020, a gente traz a agenda de retomada econômica do estado, saindo da pandemia. E em 2021, atualizamos e lançamos a agenda propositiva para o desenvolvimento do Rio Grande do Norte com sete ações urgentes e estratégicas. Tudo isso de forma a colaborar para o desenvolvimento.

 

O Mais RN tem sido buscado por diversas instituições para firmar parceria. Como o senhor ver essa cooperação e quais frutos esperar?
O MAIS RN desenvolveu uma linha de ação chamada tríplice hélice, que nos proporciona uma relação técnica voltada para pesquisa e desenvolvimento de projetos com entes externos à FIERN, por meio dos acordos de cooperação técnica (ACT). Hoje, temos ACTs firmados com o Governo do estado através da Secretaria de Tributação, Idema, Jucern; com universidades A UFRN, UNP; além de convênio com IBGE, Banco do Nordeste, e em vias de formalização com outras entidades que nos procuram. Essa busca ativa por parcerias para desenvolvimento de pesquisas técnicas tem gerado bons frutos. Cada acordo desse é acompanhado de um plano de trabalho para construir pesquisa, projeto, gerar informação de qualidade e poder contribuir ainda mais para o desenvolvimento de agendas pautadas na realidade. As parcerias nos ajudam não só mapear os indicadores como também implementar as decisões tomadas. Tem ainda o Ministério do Desenvolvimento Regional, a Sudene. Isso mostra a relevância do trabalho do MAIS RN e os resultados são excelentes porque, como se desdobram em planos de trabalho, existem atividades concretas e voltadas para entregas reais. Pesquisas, projetos, reuniões de trabalho, grupos de trabalho, mesas redondas, salas de situação. Com o Idema, por exemplo, o foco é licenciamento, fiscalização. A Sudene são ações de desenvolvimento regional, como o MDR também. Na Jucern é acesso a dados de abertura e fechamento de empresas, vocações regionais. O da tributação é o entendimento de como vem a arrecadação, faturamento, desenvolvimento da indústria por segmento. Daí saem alguns direcionamentos.
O do CREA não só gerou a transação de informação de qualidade especialmente da área de obras e infraestrutura do estado, mas também gerou para o MAIS RN o primeiro contrato, através do IEL, para uma agenda propositiva do CREA para o desenvolvimento regional do Seridó, do Oeste, do Alto Oeste, da região Metropolitana e do Leste Potiguar, para todo o RN. Tudo isso foi contratado pelo CREA e será entregue pelo MAIS RN.

 

Agora, aos 8 anos, quais as expectativas para o futuro do MAIS RN?
O próximo passo, provavelmente, é a integração do MAIS RN à rede de Observatório Nacional da Indústria da CNI através do compartilhamento de metodologias, da inserção do MAIS RN, a forma de trabalho e a especificidade que a CNI tem contribuído para as federações. O objetivo agora é adaptar o MAIS RN à metodologia que a CNI tem desenvolvido para rede de observatórios que não só a Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte vai entrar, mas outras também vão entrar para que a gente possa trabalhar em rede.

 

Diante de tudo isso, na sua avaliação, o que o MAIS RN representa para o Rio Grande do Norte?
Sem sombra de dúvidas, o MAIS RN representa para o Rio Grande do Norte aquilo que foi definido ainda em 2014, à época do lançamento, o MAIS RN é uma bússola para o desenvolvimento sustentável do estado. Ele é uma bússola porque aponta o Norte, hierarquiza prioridades, define cenários, permite atualmente atualizar os números. São decisões baseadas em fatos, ou seja, indicadores palpáveis metodologicamente verificados. O MAIS RN é, antes de tudo, um Norte para o desenvolvimento do Rio Grande do Norte não só olhando para o curto prazo, mas olhando para o potencial que esse estado representa no longo prazo já que em 2035 é o horizonte do nosso planejamento. O MAIS RN representa, antes de tudo, uma agenda daqueles que acreditam no Rio Grande do Norte e no futuro desse estado.