Oportunidades para o Brasil e o RN com hidrogênio verde apontam para o offshore, frisam especialistas em evento na FIERN

23/06/2022   19h03

 

O Brasil tem potencial técnico para produzir 1.715 milhões de toneladas de hidrogênio verde por ano – o equivalente a aproximadamente 14 vezes a demanda mundial de hidrogênio em 2018 – e a grande força para impulsionar essa indústria está no offshore: na energia solar fotovoltaica e na que está prevista em futuros parques eólicos no mar, em estados como o Rio Grande do Norte.

 

A projeção foi divulgada nesta quinta-feira (23) pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) durante painel sobre os desafios e oportunidades que o hidrogênio traz para o país, realizado em Natal, na Casa da Indústria.

 

A indústria do chamado hidrogênio verde, produzido a partir de fontes renováveis e possível meio de armazenamento de energias limpas para exportação, está em processo de estruturação nacionalmente, e à espera de regulamentação.

 

O assunto, incluindo os desafios que essa nova economia tem atualmente e os já sinalizados no horizonte, foi o tema central do “Programa Conhecendo a Indústria”, realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com o Sistema FIERN, que engloba SENAI, SESI, IEL e a Federação das Indústrias no Rio Grande do Norte.

 

“A estimativa de potencial técnico de produção de hidrogênio no país é de 1.851 Milhões de toneladas/ano e desse total 1.715 milhões de toneladas são esperadas com energias renováveis offshore”, disse a consultora técnica da EPE, Patrícia Feitosa Bonfim Stelling, ao apresentar os dados. “São números que indicam possibilidades, que, claro, vão depender de investimentos do mercado, mas que mostram uma oportunidade para aproveitamento desse recurso, para aumentar a segurança energética, para o desenvolvimento do Brasil, com possibilidade de desenvolvimento econômico, tecnológico e criação de empregos”, complementou ela.

 

Os custos de produção ainda elevados foram apontados entre os desafios para o cenário favorável se concretizar, mas, segundo ela, “existe todo um caminho a ser percorrido para que esses custos reduzam”. “Para  aproveitamento das oportunidades”, acrescentou Patrícia, o Brasil precisa ter uma base regulatória que dê segurança jurídica aos atores envolvidos”.

 

VANTAGENS

Fatos que contribuem para o Brasil ser um importante polo de produção de energias renováveis e de hidrogênio para o mundo foram apresentados pelo diretor do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) e do departamento regional do SENAI-RN, Rodrigo Mello, e pelo coordenador do Grupo de Trabalho de Hidrogênio Verde na Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), André Themoteo.

 

O potencial definido como “gigante” para geração de energia eólica offshore, a crescente demanda mundial por energia e hidrogênio, assim como a necessidade de soluções energéticas com menos emissões de gases do efeito estufa foram destacados entre as principais vantagens.

 

Rodrigo Mello frisou que o uso do hidrogênio em processos industriais não é novo. Que a grande inovação que tem atraído a atenção do mundo é, especialmente, a possibilidade que o gás produzido a partir de fontes renováveis traz como meio de armazenar energia – e permitir que ela seja transportada, de forma inédita no Brasil, para consumo em outros países.

 

“Nós vamos ter na pauta de exportações soja, ferro, peixe, frutas e também energia, um produto estratégico para a balança comercial brasileira e para a humanidade”, sintetizou o diretor do ISI-ER. “O capital, os investidores e a tecnologia existem. O maior desafio em solo brasileiro agora é o ambiente regulatório”, complementou.

 

OFFSHORE

O potencial de geração de energia eólica offshore – uma indústria que já é realidade na Europa e nos Estados Unidos, por exemplo, mas que também está se estruturando agora no Brasil –  e a qualidade dos ventos que sopram no país foram reforçados por André Themoteo, da ABEEólica. “Um dos melhores ventos do mundo está no Brasil”, disse ele na apresentação.

 

O fato de ter 85% da matriz energética baseada em fontes renováveis, o Hidrogênio Verde como grande protagonista na economia de baixo carbono – a economia com emissões de gases do efeito estufa reduzidas – e a ampliação da geração de energia solar e eólica como fonte de produção desse tipo de hidrogênio também foram listados entre as oportunidades para o Brasil por Paula Nadai, analista de Desenvolvimento Industrial do SENAI.

 

Durante a apresentação, ela enfatizou o papel da rede de Institutos SENAI de Inovação como provedor de soluções tecnológicas para essas e outras indústrias e, ainda, como ponte entre os investidores e os demais atores que compõem o ecossistema nacional de inovação, para o desenvolvimento da indústria.

 

A Missão Estratégica Hidrogênio Verde, realizada pelo SENAI em parceria com uma das maiores geradoras de energia limpa no país, a CTG Brasil, foi apontada por ela como termômetro da movimentação que o setor já tem gerado no país, e de articulações que se intensificam com participação direta da instituição.

 

A Missão foi lançada em outubro de 2021 em Natal como a maior chamada pública do país para apoio a projetos de Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (PD&I) com foco em hidrogênio verde. “Foram submetidos 36 projetos, com R$ 186 milhões em propostas, uma alavancagem de 12 vezes em relação ao valor aportado pela empresa”, disse Nadai. A Chamada Pública foi coordenada pelo ISI-ER e resultou, inicialmente, na aprovação de três projetos.

 

Em junho deste ano, em parceria desta vez com a Eletronorte, o SENAI lançou uma nova chamada para projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação para aplicação de energia solar no Brasil e geração de Hidrogênio Verde na Usina Hidrelétrica de Balbina (AM). Empresas, Instituições de Pesquisa e startups nacionais podem se inscrever pela Plataforma Inovação para a Indústria.

 

SOBRE O EVENTO

O Programa “Conhecendo a Indústria” é realizado desde 2014 pela CNI com o objetivo de apresentar a representantes do governo, de agências reguladoras e do Congresso Nacional, por exemplo, o que o Sistema Indústria e grandes unidades fabris brasileiras estão fazendo em relação a temáticas selecionadas, consideradas estratégicas para a competitividade e o desenvolvimento do Brasil. Esta é a primeira edição do Programa no Rio Grande do Norte.

 

Representantes de quatro Ministérios do governo – da Educação (MEC), de Minas e Energia (MME), da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e da Economia (ME) – além da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), do Senado Federal e da Câmara dos Deputados participam.

 

Na abertura do evento, o presidente do Sistema FIERN e da Comissão Temática de Energias Renováveis (COERE), da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern), Amaro Sales de Araújo, falou sobre o potencial de geração de energia limpa que o estado possui e destacou a necessidade de apresentar essa realidade à sociedade.

 

Ele também destacou que a região Nordeste, que antes era vista como um problema pelo resto do país, agora é a solução. “O Nordeste ajuda o Brasil a não passar por um racionamento de energia”, afirma, fazendo referência às energias renováveis. No caso da energia eólica, cerca de 90% da capacidade instalada atualmente está concentrada na região.

 

A programação do “Conhecendo a Indústria” será encerrada nesta sexta-feira, com visita técnica do grupo ao Hub de Inovação e Tecnologia (HIT) do SENAI-RN e a um parque eólico na cidade de Touros.

 

O HIT, localizado em Natal, sedia o ISI-ER – Instituto que pesquisa rotas sustentáveis de produção de hidrogênio há mais de 10 anos e que é a principal referência do SENAI no Brasil em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) em energia eólica, solar e sustentabilidade – e o Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER) – escolhido pelo Departamento Nacional do SENAI como centro de excelência e coordenador nacional de projeto em parceria com a entidade alemã de cooperação GIZ, para desenvolver infraestrutura, metodologias e cursos para formação de profissionais que irão atuar na cadeia produtiva do hidrogênio, no país.