Programa da CNI promove troca de experiências entre indústria e formuladores de políticas públicas

1/04/2019   11h14

A indústria produz e aperfeiçoa soluções inovadoras, como carros, calçados e sensores para celulares. E, graças à Propriedade Industrial – ramo da Propriedade Intelectual – é possível conceder direitos a esses produtos e proteção a quem os criou. Mas, quem já entrou em uma indústria? Para aproximá-la de membros do governo, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) promoveu, na quinta-feira (28), em Campinas (SP), a segunda edição do Programa Conhecendo a Indústria voltada para a Propriedade Intelectual.

 

Examinadores de patentes do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e servidores de ministérios e do poder legislativo conheceram de perto processos industriais da Bosch e iniciativas para o desenvolvimento industrial da Escola SENAI Roberto Mange.

 Participantes visitam a unidade da Bosch em Campinas, São Paulo

 

Na unidade de Campinas da Bosch, especializada no fornecimento de tecnologia e serviços, o chefe de Inovação e Patentes, Leandro Mandu, apresentou aos participantes uma série de inovações desenvolvidas pela empresa em diversas áreas, como a plataforma de pecuária, uma tecnologia que monitora o desempenho do gado com precisão, por meio de conceitos de internet das coisas. “Isso tem a ver com sair do mundo metal mecânico e entrar no mundo digital, já que a Bosch está seguindo o rumo da Indústria 4.0 e passando por sua maior transformação da história”, explica Mandu.

 

O encontro também permitiu à Bosch e aos participantes um diálogo sobre o processo de análise de pedidos de concessão de patentes, que é realizado pelo INPI para proteger inventos que partem da indústria. De um lado, Mandu, da Bosch, destacou a questão do tempo atual para as análises. De outro, examinadores de patentes do INPI expuseram entraves no processo, sobretudo relacionados ao quadro de pessoal. “Nossa produção é muito similar a de examinadores de outros países, mas o problema está no pequeno número de profissionais”, justifica Itamar Pereira, pesquisador em Propriedade Industrial da Divisão de Engenharia Civil do INPI do Rio de Janeiro. Ele também comemorou a oportunidade de conhecer tecnologias de ponta desenvolvidas pela Bosch.

 

Maria Elisa Martinez, pesquisadora em Propriedade Industrial da Diretoria de Patentes, em São Paulo, considera a visita a indústrias, como a da Bosch, importante para o trabalho dela. “Não tem nada melhor do que você ver, conhecer e interagir, pois você se depara com o outro lado, já que, muitas vezes, pedidos de patentes não refletem a realidade”, relata. Para Domênica Loss, pesquisadora da Divisão de Modelos de Utilidade do INPI do Rio de Janeiro, a visita à Bosch permitiu conhecer o aperfeiçoamento de produtos já desenvolvidos. “É interessante ver de perto essa visão empresarial, de pesquisa e desenvolvimento e todo o processo que eles desenvolvem, desde a ideia até o protótipo”, diz.

 

 Os pesquisadores do INPI Itamar Pereira, Domênica Loss e Maria Elisa Martinez acompanharam o desenvolvimento de produtos na Bosch

 

Na visita à Bosch, os participantes do programa foram levados até o chão de fábrica da empresa. Conheceram sistemas de segurança e de monitoramento, áreas de montagem e de realização de testes de veículos, setor de testes de emissão de gás, entre outros. Além disso, a Bosch apresentou a escola técnica que coordena, em parceria com o SENAI, voltada para a Indústria 4.0. Nela, jovens aprendem a desenvolver soluções e lidam com tecnologias avançadas, como manufatura aditiva, robôs colaborativos e manutenção preditiva online.

 

O representante da CNI no evento, César Galiza, explica que a vantagem do Conhecendo a Indústria é a troca de experiências entre formuladores de políticas públicas e representantes de unidades fabris. “O conhecimento empírico adquirido com o acesso à realidade do dia a dia do chão de fábrica possibilita aos convidados um incremento positivo no entendimento para a praticidade das futuras decisões burocráticas que impactarão no processo produtivo da indústria”, afirma o gerente de articulação e controle da CNI.

 

Conhecendo a escola do SENAI

 

Galiza complementa que o programa também permite aos visitantes a compreensão das iniciativas do SENAI. “Eles passam a entender o papel do Sistema Indústria na formação e qualificação da mão de obra dessas indústrias por meio do SESI e do SENAI na geração e compartilhamento de processos inovadores de C&T e gestão”, ressalta.

 

Visitar a Escola SENAI Roberto Mange (Instituto SENAI de Tecnologia – Metalmecânica) foi a segunda parte da edição do Conhecendo a Indústria sobre Propriedade Intelectual. Os participantes foram recebidos por uma apresentação do diretor-geral do SENAI e diretor-superintendente do SESI, Rafael Lucchesi, que falou sobre a importância dessas instituições para indústria brasileira. “Devemos lembrar que todas as indústrias instaladas no Brasil têm a força de trabalho treinada e capacitada pelo SENAI”, frisa. O SENAI já realizou mais de 75 milhões de matrículas ao longo de sua história em cursos de educação profisisonal, graduação e pós-graduação.

 

 Rafael Lucchesi fala sobre a importância da educação profissional oferecida pelo SENAI

 

Ao falar sobre o comprometimento do SENAI com a educação profissional no Brasil e o retorno do sistema para a sociedade, Lucchesi lamenta que, no país, as profissões manuais ainda não sejam tão valorizadas. “O SENAI luta contra isso. E precisamos modificar o sistema educacional brasileiro, pois apenas 11% dos jovens de 15 a 17 anos faz educação técnica junto com educação profissional. Na Áustria, por exemplo, esse número sobe para 76%”, pontua.

 

 Alunos da Escola SENAI Roberto Mange, de Campinas, em atividade

 

Após palestra com Lucchesi, os participantes do programa visitaram a estrutura da Escola SENAI Roberto Mange e acompanharam as atividades desenvolvidas por alunos. No setor de manutenção, por exemplo, eles têm a base de montagem e desmontagem de equipamentos. Os estudantes também têm aulas de impressão 3D, aprendem a montar sistemas inteligentes, têm aulas de robótica com teoria e prática e cursos de mecânica. No momento da visita, 1.500 alunos estavam espalhados por salas, laboratórios e em atividades práticas.

 Participantes ficam por dentro das atividades desenvolvidas pelos alunos do SENAI

 

Celso Hypólito, orientador de práticas profissionais, estudou no SENAI e trabalha na instituição há 28 anos disseminando conhecimento. “A oportunidade que esses alunos têm é única, pois aprendem uma profissão. O SENAI apresenta a eles diversas áreas tecnológicas e, assim, ganham uma ampla visão do mundo do trabalho”, conta.

 Celso Hypólito, orientador de práticas profissionais, já trabalha no SENAI há 28 anos

 

Uma das participantes do Conhecendo a Indústria, a diretora do Departamento de Apoio à Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Adriana Martin, ficou entusiasmada em conhecer a Escola Roberto Mange. “Para mim, o SENAI é modelo de educação no país. Infelizmente, no Brasil, o ensino técnico é menos valorizado do que o ensino superior. E não é por aí. Tem que fazer parte da educação de casa dizer que toda profissão tem valor”, opina.

 

Sobre o Conhecendo a Indústria

 

Desde 2014, o Conhecendo a Indústria já teve 28 edições, duas delas sobre Propriedade Intelectual. Mais de 300 representantes do governo, agências reguladoras, bancos oficiais e congresso participaram do Programa, com edições em estados como Bahia, Espírito Santo, Goiás, Amazonas, Minas Gerais, Pernambuco, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Maranhão e Piauí.