Reforma tributária só terá impacto no crescimento do Brasil se for ampla, afirma Armando Monteiro

8/06/2021   15h23
Reforma tributária só terá impacto no crescimento do Brasil se for ampla, afirma Armando Monteiro

 

O sistema tributário brasileiro é o responsável pela baixa competitividade do país, pelo quadro de estagnação da economia e pela perda da posição relativa da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Diante disso, somente uma reforma tributária ampla, que inclua os impostos cobrados pela União, estados e municípios, será capaz de fazer o Brasil crescer, gerar emprego, renda e desenvolvimento. Se for fatiada, a reforma terá pouquíssimo efeito. Essa é a avaliação do conselheiro emérito da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o ex-senador e industrial Armando Monteiro Neto.

 

Ele participou do seminário online, nesta terça-feira (8/6), promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pelo jornal Correio Braziliense, para discutir a importância de uma reforma tributária ampla, em conjunto com o presidente da Comissão Mista de Reforma Tributária, senador Roberto Rocha (PSDB-MA), os deputados Alexis Fonteyne (NOVO-SP) e Ricardo Barros (PP-PR), líder do Governo na Câmara dos Deputados, a professora e consultora especialista em IVA/IBS Melina Rocha e o diretor do Centro de Cidadania Fiscal, economista Bernard Appy. O debate foi mediado pelo jornalista Vicente Nunes, editor-executivo do Correio Braziliense.

 

Na avaliação de Armando Monteiro, o imposto cobrado nos municípios, ISS, e o cobrado pelos estados, ICMS, são responsáveis por dois terços dos tributos na base de consumo. Desta forma, segundo ele, é necessário que se crie um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) que substitua os cinco tributos de consumo: PIS/Cofins e IPI (federais), ICMS (estadual), ISS (municipal).

 

Atualmente, o acordo pela tramitação da reforma prevê, inicialmente, a união apenas de PIS e Cofins, deixando a discussão sobre os demais tributos para depois. “O IVA está presente em 160 países, o Brasil amadureceu e superou fórmulas exóticas para convergir para um sistema tributário que hoje vigora no mundo inteiro. Por isso é fundamental que faça uma reforma ampla, mais ambiciosa, e não fatiada”, defendeu.

 

Para o ex-senador, o Brasil tem pressa e não pode perder a oportunidade de construir um sistema tributário com bases internacionais. Ele lembra, por exemplo, que o sistema tributário caótico é responsável pelo custo de instalação de uma siderúrgica no Brasil ser 10% mais caro do que no México, por exemplo, conforme estimou um estudo realizado pela consultoria Ernest Young para a CNI.

 


“Há um ambiente político favorável à votação e à aprovação de uma reforma ampla, com um inédito consenso na esfera federativa”, afirmou Armando Monteiro.


 

“Mas a reforma não avançará se o governo federal não se colocar dentro da reforma. Mesmo com passo inicial de fusão do PIS/Confins, é preciso ter uma reforma ampla, do contrário, o governo pode até dizer que fez alguma coisa, mas o impacto será muito pequeno”, acrescentou.

 

É possível conciliar reforma ampla com unificação do PIS/Cofins

De acordo com o presidente da Comissão Mista de Reforma Tributária no Congresso Nacional, senador Roberto Rocha, é importante olhar que “o copo está meio cheio”, com o retorno do diálogo entre o Executivo e o Legislativo. Ele diz que há alguns consensos para uma reforma tributária ampla, tais como: crédito financeiro, tratamento diferenciado para saúde e educação, preservação do Simples e da Zona Franca de Manaus, cobrança no destino.

 

Mas que a estratégia do governo foi retirar as propostas em que não se tem consenso, como o Fundo de Desenvolvimento Regional, para compensar a perda de arrecadação dos estados com o fim da guerra fiscal. Como a reforma tributária ampla acaba com o ICMS, os governos estaduais não poderão mais fazer renúncias fiscais para atrair investimentos, em detrimento de outro estado.

 

Reforma tributária só terá impacto no crescimento do Brasil se for ampla, afirma Armando Monteiro

 

Roberto Rocha afirmou que, em breve, vai entregar o relatório da PEC 110, que trata da criação do IVA dual – um imposto valor agregado federal e outro estadual – que está sendo feito em parceria com a Câmara dos Deputados e o governo.  “Eu tenho consciência que essa é a maior obra social que podemos fazer, mas nada será feito se não for combinado. O jogo combinado dentro do Congresso já não é fácil”, explicou.

 


Segundo o senador, a ideia é aprovar a unificação do PIS/Cofins, por projeto de lei, e que deve criar a Contribuição de Bens e Serviços (CBS), e depois a CBS passaria a integrar o IVA federal, imposto que seria criado a partir da unificação dos impostos federais. “É perfeitamente conciliar a aprovação da CBS por lei ordinária, com reforma ampla”, disse o senador. 


 

Na contramão do entendimento dos especialistas, o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros, afirmou que “a reforma tributária será votada de forma fatiada, provavelmente em quatro etapas, começando pela CBS, que será a fusão do PIS e Confins. Ele afirma que só foi possível votar a reforma previdenciária, porque havia um problema visível, com a falta de capacidade dos estados em pagar as folhas de pagamento.

 


Para Barros, líder do governo na Câmara, a reforma tributária será votada em etapas


 

“O problema se materializou naquele momento. Agora, eu não estou vendo essa união e vontade dos Estados. O ICMS é importante, a disputa está nisso. O discurso é um e a prática é outra. Falta uma manifestação mais clara de estados e municípios de que querem participar a solução geral do sistema tributário brasileiro”, afirmou o líder do governo.

 

Reveja o debate

Reforma tributária ampla é ter visão sistêmica do país

O deputado Alexis Fonteyne afirmou que a reforma tributária pode ser faseada, mas não fatiada.

 


“Não dá para fazer reforma com puxadinhos. De puxadinho basta o que temos hoje”, disse Fonteyne.


 

Segundo ele, falta visão sistêmica de que o Brasil é o único país do mundo que tem um sistema disfuncional, no qual quem paga mais imposto é o mais pobre.

 

Fonteyne lembra que o empresário brasileiro é obrigado a usar 1,5 mil horas para pagar as obrigações acessórias e que os temas tributários consomem entre R$ 240 bilhões e R$ 280 bilhões por ano, que acabam refletindo no preço do produto e do serviço. “O contencioso na Justiça, causado por esse monte de alíquotas, é riqueza que não está circulando. O recurso sai do balanço das empresas e a Receita não pode usar”, afirmou.

 

 

Reforma tributária só terá impacto no crescimento do Brasil se for ampla, afirma Armando Monteiro

 

O parlamentar afirmou também que a reforma tributária tem um impacto social muito grande “Ela reflete no emprego, pois se hoje a indústria não tem competitividade, nós trazemos produto de fora. Se vem de fora, não gera emprego aqui. Se a indústria deixar de existir quem vai pagar essa conta? O objetivo fazer a reforma tributária para subir a barra da renda da população com base na produção, inclusão social produtiva”, defendeu.

 

 

Especialistas defendem reforma tributária ampla

Em sua fala, a professora e diretora de cursos da Universidade Iorque, no Canadá, Melina Rocha Lukic, afirmou que decisões recentes do Supremo Tribunal Federal (STF) vão afetar diretamente a arrecadação, como, por exemplo, a exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS/Confins. Segundo ela, apenas isso já deveria ser suficiente para garantir o apoio dos governadores para uma reforma ampla.

 


“Reforma em etapas não é reforma fatiada. Mesmo no IVA dual, é importante ter um modelo inteiramente colocado, com um plano e um caminho a seguir. O governo federal não quer entrar nessa discussão, o que está na mesa é a unificação do PIS/Cofins, por meio de projeto de lei. Mas temos que tomar cuidado com isso, para não passar a CBS de forma desconectada. Senão, ao final, vamos ter problema de ter dois tributos completamente diferente”, explicou Melina Rocha Lukic. 


 

Além de professora, Melina é doutora em Direito e Ciência Política pela Universidade Sorbonne Nouvelle – Paris III, na França, e autora do livro Reforma Tributária no Brasil – ideias, interesses e instituições.

 

De acordo com o economista Bernard Appy, o ambiente para aprovação de uma reforma tributária ampla é o mais favorável das últimas décadas. “Os estados estão apoiando de forma unânime uma reforma que acabe com o ICMS, com cobrança no destino. É verdade que temos algumas resistências de grandes municípios, que querem manter o ISS, mas a grande questão é de custo-benefício. Eles olham para a situação deles e esquecem de olhar para o País”, afirmou.

 

 

“Sistema atual penaliza a indústria e favorece um setor de serviços de baixa produtividade”, afirma Bernard Appy

 


Bernard Appy citou estudo do economista-sênior do LCA Consultores, Bráulio Borges, segundo o qual a realização de uma reforma tributária ampla possibilitaria um aumento de 20% do PIB brasileira no período de 15 anos. “O sistema tributário brasileiro penaliza a indústria e favorece um setor de serviços de baixa produtividade. O resultado é que os brasileiros são mais pobres ”, concluiu Appy.

 

 

Da Agência CNI  de Notícias