Retomada sustentável da economia exige medidas urgentes e reformas estruturais

16/10/2020   09h23

Retomada do crescimento depende de expansão de crédito e programas de apoio às micro e pequenas empresas

 

 

Após meses de paralisação parcial do setor produtivo ocasionada pelas medidas de segurança necessárias para conter o avanço da covid-19, a indústria brasileira prepara estratégias para superar a crise econômica e retomar o crescimento.

 

Confederação Nacional da Indústria (CNI) lançou o documento “Propostas para a retomada do crescimento econômico” com 19 ações para alavancar o desenvolvimento e gerar empregos. Entre as prioridades, destaque para a reforma tributária.

 

O documento, entregue ao governo, está dividido em 2 blocos. No primeiro, estão 5 medidas prioritárias de transição, para serem adotadas imediatamente. No segundo, há 14 propostas estruturantes para a melhora do ambiente de negócios, redução do Custo Brasil e estímulo ao investimento.

 

De acordo com o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Abijaodi, as medidas emergenciais adotadas pelo governo e pelo Congresso no início da pandemia foram essenciais para dar fôlego às empresas. Porém, para ele, para manter as empresas vivas é preciso que o crescimento econômico seja sustentado.

 

“Nós temos 5 objetivos principais com essa proposta. Temos que trabalhar muito a questão financeira para manter as empresas vivas, porque sabemos que elas estão saindo da crise bastante debilitadas e com dificuldades e tínhamos que cuidar da saúde financeira dessas empresas. Depois, tem a parte das relações do trabalho e nos preocupamos para que não houvesse uma carga maior do que as empresas podem suportar”, destaca Carlos Abijaodi.

 

O presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, acredita que é fundamental que alguns programas de crédito emergenciais adotados pelo governo – como o Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte), o Peac (Programa Emergencial de Acesso a Crédito, do BNDES), o Pese (Programa Emergencial de Suporte a Empregos) do Banco Central, entre outros– sejam mantidos até pelo menos junho de 2021. Para ele, é pouco provável que o sistema financeiro retorne à normalidade no curto prazo.

 

“Ainda estamos sob os efeitos dessa pandemia e algumas medidas ainda nesse período precisam ser preservadas, pelo menos no setor empresarial, como a manutenção de juros baixos, a colocação de recursos financeiros disponíveis, principalmente para médias e pequenas empresas, que conseguiram sobreviver à pandemia. É preciso cuidar dessas empresas”, afirma.

 

A renegociação, o parcelamento do prazo de pagamento de tributos também é um fator considerado importante para que a economia cresça de forma sustentável. O presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, destaca que a normalização da economia pode levar tempo e são necessárias ações e políticas específicas para o período de transição entre as medidas emergenciais e o crescimento sustentado.

 

“É preciso evitar que mais empresas quebrem, com prazo de 12 meses para pagamento dos tributos. A renegociação e o parcelamento do prazo são medidas importantíssimas para que a gente passe por esse momento que estamos vivendo agora”, explica Robson Braga de Andrade.

 

Reforma tributária

No 2º bloco de propostas da CNI, o destaque é a reforma tributária. A instituição defende uma reforma que torne o sistema tributário mais simples e eficiente, com foco na redução da cumulatividade. Isso permitirá a desoneração completa dos investimentos e das exportações e aumentará as condições para os produtos brasileiros competirem com os estrangeiros nos mercados interno e externo.

 

A reforma tributária substituiria os atuais tributos incidentes sobre o consumo (PIS/Cofins, ICMS, ISS e IPI), além do IOF, por um único Imposto sobre Valor Adicionado, de abrangência nacional, ou seja, a reforma deve, fundamentalmente, envolver os tributos dos 3 níveis: federal, estadual e municipal.

 

Carlos Abijaodi, lembra que a reforma tributária tem influência na competitividade da indústria, na desburocratização e traz maior segurança jurídica, porque, segundo ele, é importante que haja um sistema claro no que diz respeito ao pagamento de tributos.

 

“Para nós, a reforma tributária também dá um status diferente para o Brasil, que é o único país no mundo que tem um sistema tão complexo. Isso assusta um pouco os estrangeiros, principalmente no que diz respeito a investimentos. Não estou dizendo que a reforma tributária vai estimular investimentos, mas ela vai ser um fator e decisão”, garante Abijaodi.

 

Nova lei do gás natural

Dentre as propostas estruturantes para a retomada do crescimento econômico, a indústria defende a aprovação, na íntegra, do projeto de lei 6.407/2013, conforme o texto da Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados.

 

A proposta – que busca proporcionar a oferta de gás natural a menores preços para indústria, comércio e consumidores em geral, estimular o aproveitamento racional do petróleo e do gás natural no Brasil e garantir segurança jurídica para os investidores do setor –, foi aprovada pela Câmara em 1º de setembro e está em discussão no Senado.

 

De acordo com a CNI, o preço do gás natural para o setor industrial no Brasil é um dos mais elevados do mundo, sendo um obstáculo para a competitividade da indústria. Os preços do gás no Brasil variam de US$ 8 a US$ 12 por milhão de BTUs (unidade térmica britânica, na sigla em inglês), o dobro de mercados como os Estados Unidos.

 

Com preço mais baixo, os investimentos podem chegar a R$ 150 bilhões em 2030, segundo o cálculo do governo, com incremento na competitividade de setores industriais como química, siderúrgica, minério de ferro, alumínio, cerâmica, vidro e papel e celulose, que, juntas, utilizam 80% do gás consumido pela indústria.

 

“A aprovação do marco regulatório do gás vai contribuir bastante para a gente reativar a indústria de uma maneira compensadora, com investimentos”, explica Carlos Abijaodi.

 

Reforma Administrativa

Outra reforma estruturante defendida pela indústria, a reestruturação administrativa do setor público deve ter como foco o aumento da competitividade e o enfrentamento do crescimento constante das despesas com pessoal, segundo a CNI.

 

“A reforma do Estado brasileiro, por meio de uma reforma administrativa que reduza e racionalize os gastos públicos, deve visar a melhora na qualidade e a eficiência dos serviços prestados à população. Políticas públicas precisam ter metas de desempenho e avaliação precisa de custos e benefícios, para assegurar a efetividade nas ações e na aplicação de recursos públicos”, explica Robson Braga de Andrade.

 

Além disso, o presidente da CNI defende que a reforma administrativa contribuirá para o reequilíbrio fiscal. Isso aumentará a capacidade de investir do Estado, bem como o nível de confiança da economia, determinante na atração de investimentos.

 

Para a indústria, a reforma administrativa não deve ser colocada à frente da reforma tributária. Elas podem caminhar juntas ou a administrativa pode vir depois, por não ter impacto imediato sobre as despesas. “A revisão do modelo de tributação será o norte para a modernização do Estado. Desta forma, as reformas tributária e administrativa devem tramitar simultaneamente no Congresso, para que, ao final, tenhamos um Estado menos pesado e um sistema tributário simplificado, possibilitando ao Brasil iniciar um novo ciclo de desenvolvimento”, explica Andrade.

 

Pesquisa, desenvolvimento e inovação

A indústria defende a aprovação do projeto de lei complementar 135/2020, que libera recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FDNCT), seja aprovado pelo Congresso Nacional. A proposta foi aprovada pelo Senado em 13 de agosto e está em discussão na Câmara.

 

De acordo com a CNI, apenas R$ 600 milhões dos R$ 5,2 bilhões arrecadados pelo fundo em 2020 estão disponíveis para investimentos este ano em atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) realizadas por universidades, institutos de pesquisa e empresas. Um total de R$ 4,6 bilhões está retido nos cofres do governo federal.

 

No início de agosto, CNI e outras 3 entidades lançaram manifesto conjunto em defesa da aprovação da proposta.  O texto, também assinado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei) e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), cobra a liberação dos recursos do FNDCT.

 

“A retenção de parte tão expressiva do FNDCT implicará para a vida dos brasileiros e para a economia do país perdas e danos pelo seu enorme impacto sobre a ciência brasileira e sobre a competitividade da indústria local”, destaca o manifesto.

 

Recuperação Gradual

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, explica que o segmento têxtil foi bastante impactado, quando o comércio precisou ser paralisado por causa da pandemia.

 

“O varejo do nosso segmento ficou fechado por cerca de 90 dias. Esse impacto trouxe uma preocupação brutal porque o movimento caiu cerca de 90% no início da quarentena. Isso paralisou indústria e comércio. Por conta disso, houve um estresse enorme, principalmente pela busca de crédito”, destaca.

 

Para ele, algumas medidas do governo, especialmente o auxílio emergencial e a flexibilização da jornada de trabalho foram importantes, mas as ações para garantir crédito às empresas demoraram a acontecer.

 

“O crédito demorou muito a engrenar e, no início, havia desespero pelo crédito porque as empresas precisavam pagar as contas. Só agora a questão do crédito começou a engrenar por causa de ações como o FGO (Fundo de Garantia de Operações) e o FGI (Fundo Garantidor para Investimentos)”, diz Fernando Pimentel.

 

Em um cenário de recuperação mais forte, depois de 90 a 100 dias com a produção parada ou parcialmente interrompida, o retorno nunca é sincronizado, segundo Pimentel. Ele lembra que, enquanto estavam paradas, as empresas não receberam materiais, os insumos.

 

Após regularizar o fluxo de produção e distribuição, a indústria começou a apresentar sinais de recuperação. “Nós já começamos a gerar emprego. Perdemos quase 80 mil postos formais de trabalho de março a julho, mas recuperamos cerca de 8 a 10 mil entre julho e agosto e temos expectativa de que continuaremos a recuperar. O aumento de emprego é um sinal óbvio de que a retomada está acontecendo”, pontua Pimentel.

 

Além da retomada de emprego, os números de produção da indústria já demonstram a retomada em andamento. Leia no infográfico:

 

 

De acordo com Fernando Pimentel, existe entre os empresários do setor a expectativa de que o movimento de Natal seja semelhante ao do ano passado, mesmo havendo as restrições de distanciamento.

 

“O momento atual é de retomada, em que a indústria cresce mais do que o esperado, os índices de produção aumentam, os índices de consumo aumentam, a taxa de emprego aumenta e estamos de olho no ano que vem em relação ao que vai ser tomado de decisão por conta da manutenção ou não de algum auxílio emergencial”, conclui.

 

Da Agência CNI de Notícias