Setor empresarial recebe com otimismo anúncio de venda de ativos da Petrobras

28/08/2020   13h29

O crescente investimento privado e o aumento de produção do petróleo verificado a partir da reativação de campos maduros comprados da Petrobras pela iniciativa privada fazem especialistas e empresários enxergar, na venda das concessões da estatal, uma via para a recuperação do mercado no Rio Grande do Norte. A medida é tida como meio para dinamização da cadeia produtiva de petróleo e gás que vem sofrendo dificuldades ao longo dos últimos anos.

 

 

O processo de venda dos campos terrestres e de águas no RN, anunciado esta semana, na avaliação de Gutemberg Dias, presidente da RedePetro – entidade que reúne empresas fornecedoras do setor -, irá reaquecer o mercado de petróleo e gás do estado. Para ele, o importante é que os investimentos em exploração e produção sejam continuados para que o setor volte a crescer.

 

 

Gutemberg Dias, RedePetro. Foto: Divulgação

 

“Há um impacto direto da saída, após 47 anos de operação no Estado, com um grande vínculo e grandes contribuições para o Rio Grande do Norte. Mas a questão não é a Petrobras ficar, mas ela ficar e investir. O importante é continuar investindo, o que já foi anunciado que não será feito, é um processo irreversível frente a decisão da empresa de investir apenas em águas profundas. Precisamos conviver com este novo cenário de petróleo e gás no RN. Para esse momento, a saída [com a entrada de investimentos privados] é a melhor solução e poderá reaquecer o mercado”, enfatiza.

 

 

 

Gutemberg lembra que desde de 2014/2015, quando a Petrobras iniciou o processo de redução de investimentos do RN, várias operações foram encerradas nos campos da Bacia Potiguar. “As empresas fornecedoras muitas fecharam as portas ao longo desses anos. Para ter ideia, na RedePetro, temos 23 empresas fornecedoras ativas, antes eram 130 empresas associadas”, observa Dias.

 

 

O RN é um dos estados mais impactados com as medidas do plano de desinvestimento da Petrobras. Os números apontam queda expressiva na produção de petróleo e gás norte-rio-grandense nos últimos anos, gerando consequências para toda a cadeia produtiva e perda de emprego de trabalhadores. Dados da Petrobras mostram que a produção média do Polo Potiguar, de janeiro a junho de 2020, foi de aproximadamente 23 mil barris de óleo por dia (bpd). O Estado já chegou a produzir 120.000 barris/dia.

 

Vilmar Pereira, SIMETAL/RN Foto: Divulgação

 

 

“Para os empresários do segmento, a decisão da Petrobras significa oportunidade de novos negócios”, afirma o empresário Francisco Vilmar Pereira, presidente da Vipetro Construções e Montagens Industriais.

 

 

Segundo ele, as empresas que comprarem a cessão farão investimentos e reativarão a produção em patamares expressivos, movimentando toda a cadeia do setor petroleiro do estado. “A entrada de novas empresas e os investimentos irão demandar mais serviços para terceirizadas, fornecedores e prestadores de serviços da região, isso é importante para movimentar a economia do estado”, observa o empresário, que também é diretor da FIERN e presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico do Estado do Rio Grande do Norte (SIMETAL/RN).

 

 

Ele lembra que a entrada da empresa Potiguar E&P, subsidiária da Petrorecôncavo, que comprou 34 campos do Riacho da Forquilha, já se reflete em um crescimento de produção e movimentação do setor. “Houve o aumento de produção com a Potiguar E&P e, consequentemente, da demanda para terceirizadas, rede de fornecedores e prestadores de serviços nas regiões de Mossoró, Carnaúbas, Felipe Guerra, Governador Dix-Sept Rosado, Apodi. As empresas locais vinham sofrendo com a queda de produção”, avalia Vilmar Pereira. A Potiguar E&P registrou crescimento de 29,6% na produção terrestre de petróleo no Rio Grande do Norte, nos primeiros seis meses de operação.

 

 

O empresário pondera que o ideal seria que a cessão tivesse sido em blocos menores para beneficiar um número maior de empresas que já atuam na área. “O campo do Amaro deve ter uma grande procura devido sua importância, mas há campos menores para os quais poderiam ter sido feitas a cessão em pacotes menores para que mais produtores da região pudessem concorrer nesta venda da cessão. De toda forma, é uma retomada, um crescimento das atividades importantes para o setor e para todo o Estado”, afirmou.

 

 

Na segunda-feira (26), a Petrobras anunciou o processo de venda que trata da cessão dos direitos de exploração, desenvolvimento e produção de óleo e gás natural do conjunto de 26 concessões de campos de produção terrestres e de águas rasas, com instalações integradas, localizadas na Bacia Potiguar.

 

 

O Polo Potiguar é formado por três subpolos (Canto do Amaro, Alto do Rodrigues e Ubarana), totalizando 26 concessões de produção, 23 terrestres e três marítimas, além de incluir acesso à infraestrutura de processamento, refino, logística, armazenamento, transporte e escoamento de petróleo e gás natural. As concessões do subpolo Ubarana estão localizadas em águas rasas, entre 10 km e 22 km da costa do município de Guamaré. As demais concessões dos subpolos Canto do Amaro e Alto do Rodrigues são terrestres.

 

 

Além das concessões e suas instalações de produção, está incluída na transação a Refinaria Clara Camarão, localizada em Guamaré, com capacidade instalada de refino de 39.600 barris por dia.