Turma do curso de estilo do SENAI Moda e companhia Gira Dança desenvolvem figurinos para espetáculo de dança contemporânea

3/06/2022   16h11

 

O ateliê do SENAI Lab Moda, no Centro de Educação em Tecnologias Clóvis Motta, serviu como laboratório para a criação de figurinos para o espetáculo Paragens, produzido pela companhia de dança contemporânea Gira Dança em parceria com o Instituto Casa D’Água. A ação, que aconteceu na tarde do dia 25 de maio, contou com a participação de alunos do curso de Estilo do Lab Moda e de membros da companhia, que trabalha com corpos diferenciados na dança.

 

Essa iniciativa surgiu com a parceria entre o diretor artístico da Gira Dança, Alexandre Américo, e da assistente de direção, Ana Vieira, com a coordenadora do SENAI Lab Moda, Jéssica Cerejeira. Américo e Vieira, junto ao diretor do Instituto Casa D’Água, Maurício Panella, desenvolveram o espetáculo, que tem elenco composto por bailarinos com e sem deficiência física, e parte de um estudo sobre a mobilidade na cidade de Natal, em especial no bairro do Alecrim.

 

Para a confecção dos figurinos foi trabalhada a técnica upcycling, ou reciclagem criativa, que utiliza produtos, resíduos e peças aparentemente inúteis na criação de novos produtos, sem desintegrar a peça, numa função diferente da qual o produto ou partes dele foram inicialmente projetados.

 

A coordenadora do SENAI Lab Moda celebrou a parceria com os produtores do espetáculo e apontou que “os alunos de Estilo tiveram a oportunidade de pensar a roupa para corpos diferenciados, fazendo uso da técnica de upcycling, tomando como referência central as visualidades e cartela de cores encontradas no camelódromo do bairro do Alecrim”.

 

“O mais bacana desse encontro foi que os alunos tiveram a oportunidade de assinar os figurinos desse espetáculo maravilhoso inspirado em um dos bairros mais representativos da nossa cidade e realizado por uma das companhias de dança mais importantes que temos no estado”, completa Cerejeira.

 

Aluno da turma de Estilo do SENAI, Marcone Soares conta que “a participação nesse laboratório foi super agregadora, tendo em vista que seu processo foi totalmente focado no reaproveitamento de peças, retalhos e materiais que seriam descartados”. “De forma particular, a experiência para mim foi baseada em desacostumar o olhar ao óbvio e transformar peças e tecidos do nosso cotidiano em caracterizações específicas e simbólicas”, acrescenta.

 

“Foi desafiador, ao mesmo tempo instigante, planejar rotas para montar toda essa sobreposição de camadas significantes que se relacionam com cada corpo participante do espetáculo”, conclui Soares.

 

O diretor da Gira Dança conta que é a primeira vez que a companhia realiza um projeto em parceria com o SENAI-RN e relata que a experiência serviu como um processo de aprendizagem. “Eu acredito muito que os processos de criação são processos de educação. Transitamos entre saberes e realizamos coisas que nunca treinamos”, afirma Américo.

 

Formado na licenciatura em Dança e mestre em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Américo é pesquisador da Arte Contemporânea, com enfoque em estruturas performativas e improvisação. Ele participa da Giradança desde 2013 e assumiu a direção em 2017. Desde então busca criar espetáculos que retratem a diversidade e as relações entre os corpos.

 

“Meu interesse é a não hegemonia dos corpos. Minha arte foi caminhando para a improvisação porque eu mesmo não me encaixo nas estruturas tradicionais da dança. Tenho epilepsia e a melhor forma que tenho é a improvisação”, ressalta Américo.

 

Já o diretor do Instituto Casa D’Água, que também participou do processo de criação, aponta a felicidade de realizar a parceria com o SENAI Lab Moda. “Foi extremamente rico para nós que estamos na equipe de criação do espetáculo vislumbrar um exercício tão profundo e sincero dos bailarinos com a equipe do SENAI na hora de ciar esses figurinos”, relata Panella.

 

Com objetivo de promover iniciativas artísticas e culturais, com foco na sustentabilidade e na educação patrimonial, o Instituto Casa D’Água foi fundado em 2011. “Nos relacionamos com entidades públicas e privadas para criar projetos que estimulem a população a realizar um exercício de percepção e apropriação do patrimônio material e natural do estado”, explica o diretor.

 

Gira Dança

 

A companhia de dança contemporânea foi criada pelos bailarinos Anderson Leão e Roberto Morais no ano de 2005, em Natal. A proposta do grupo é pesquisar uma linguagem própria na dança a partir do uso de corpos diferentes como ferramenta de trabalho. Na prática, isso acontece na formação de um elenco de bailarinos com e sem deficiência física, o que possibilita uma investigação em torno dos limites do corpo