Polos industriais aceleram desenvolvimento no Norte, Nordeste e Centro-Oeste

2/12/2019   18h18

Instalado na BR-101, entre Recife e João Pessoa, o Polo Automotivo da Jeep localizado município de Goiana (PE) emprega atualmente mais de 13000 pessoas. O complexo reúne a fábrica do Grupo FCA (Fiat Chrysler Automobiles), que opera em 3 turnos e produz 1000 veículos por dia, e 16 empresas que fornecem peças para a produção da picape Fiat Toro e dos SUVs Jeep Renegade e Compass.

 

A instalação do polo, em abril de 2015, aqueceu a indústria de Pernambuco, um dos poucos Estados em que o setor registrou expansão na participação da geração de riquezas entre 2006 e 2016.

De acordo com dados da plataforma Perfil da Indústria nos Estados, a indústria foi responsável por 19,7% do PIB de Pernambuco em 2016, uma alta de 0,5 ponto percentual na comparação com 2006. Pode parecer pouco, mas, das 27 unidades da federação, em apenas 3 o setor industrial registrou expansão na produção de riquezas no período analisado: Pernambuco, Amapá (alta de 3,8 pontos percentuais) e Mato Grosso do Sul (alta de 3,3 pontos percentuais).

 

Em São Paulo, o maior parque produtivo do país, a indústria teve queda de 6,0 pontos percentuais na participação do PIB entre 2006 e 2016. No Rio de Janeiro, a queda foi de 16,7 pontos percentuais. Nos outros Estados que integram a região Sudeste, a mais industrializada do Brasil, o setor também perdeu participação na produção de riquezas: em Minas Gerais a redução foi de 5,8 pontos percentuais e no Espírito Santo, de 14,7.

 

Veja o infográfico:

 

Pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Aristides Monteiro avalia que esses dados são reflexos de 12 movimentos que ocorrem paralelamente na indústria do país. O primeiro é a perda estrutural de competitividade, com baixa produtividade por trabalhador, baixo crescimento das atividades na indústria de transformação e aumento da importação de insumos e máquinas usados no processo produtivo.

 

“Esse vetor enfraquece a atividade nas regiões mais industrializadas, Sudeste e Sul. É um processo que vem ocorrendo desde os anos 1990, com a abertura comercial e financeira e uma macroeconomia de juros elevados que trouxe desincentivos à produção industrial”, explica Monteiro.

 

Por outro lado, o surgimento de novos polos industriais, como o de Goiana, é resultado de incentivos fiscais federais e estaduais e da expansão da renda urbana em cidades das regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte.

 

No caso específico do Centro-Oeste, o pesquisador do Ipea afirma que a expansão da fronteira agrícola incentivada pela elevada demanda por commodities levou para a região atividades industriais relacionadas com o processamento de minerais, carnes e grãos. “Já no caso do Norte e Nordeste, a expansão da capacidade industrial está relacionada com investimentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do programa Minha Casa Minha Vida, que foram catalisadores para atrair investidores privados”, destaca Monteiro.

 

A criação do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), no Ceará, é exemplo de como o desenvolvimento de novos polos produtivos pode atrair capital estrangeiro. O Terminal Portuário do Pecém começou a operar em 2001, mas foi inaugurado oficialmente apenas em março do ano seguinte. No final de 2018, a Ceará Portos, empresa que administrava as operações portuárias, passou a ter o Porto de Roterdã como sócio.

 

Da união nasceu o CIPP, uma joint venture com 70% de capital do Governo do Estado do Ceará e 30% de capital do parceiro holandês. O CIPP engloba o terminal portuário, o complexo industrial focado no mercado interno e a 1ª Zona de Processamento de Exportações (ZPE) a operar no país – uma zona de livre comércio que oferece benefícios fiscais e liberdade cambial para as empresas ali instaladas, que devem destinar pelo menos 80% da produção para exportações.

 

Ao todo, 27000 pessoas trabalham no CIPP, que movimentou mais de 17 milhões de toneladas no ano passado, alta de 9% em relação a 2017. O presidente do complexo, Danilo Serpa, afirma que a parceria com o Porto de Roterdã, o maior da Europa, foi fundamental para a expansão das atividades portuárias. “Estamos com um plano, principalmente depois da entrada dos holandeses, bem agressivo. Estamos terminando o novo plano diretor justamente para poder nos orientar em quais áreas de atuação devemos buscar mais parceiros.”

 

DADOS REGIONALIZADOS SOBRE A INDÚSTRIA DO PAÍS – Confederação Nacional da Indústria (CNI) compila na plataforma Perfil da Indústria nos Estados informações sobre o desempenho do setor produtivo em todas as unidades da federação. A ferramenta traz dados sobre o desenvolvimento de segmentos específicos em cada estado brasileiro, sobre o porte das indústrias, as exportações, o pagamento de tributos e a participação da indústria na geração de riquezas. Também permite que o usuário faça comparações entre Estados e entre regiões.

Gerente de Pesquisa e Competitividade da CNI, Renato da Fonseca, explica que a plataforma nasceu com o objetivo de facilitar o acesso a informações sobre o setor industrial do país: “Temos no ar duas ferramentas, uma sobre o Brasil como um todo e comparando nosso desempenho com outros países, e o Perfil da Indústria nos Estados. Estamos trabalhando em uma terceira, que deve ser lançada em 2020, que vai ter dados desagregados sobre os setores que integram a indústria.”

PAPEL DAS FEDERAÇÕES – As federações de indústrias estão presentes nos 26 Estados e no Distrito Federal e representam as indústrias locais perante os governos estaduais e municipais. Além disso, fazem a conexão das empresas de sua região ou localidade com a CNI, por meio do oferecimento de informações sobre o cenário de atuação das indústrias, indicação de demandas e expectativas, bem como sobre a execução de iniciativas e projetos conjuntos.

As federações estaduais da indústria também desempenham papel fundamental na consolidação de informações sobre o setor produtivo do país. Gerente do Observatório da Indústria da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), Guilherme Muchale, afirma que questões ligadas à falta de infraestrutura, à burocracia e à cobrança de impostos são as que mais dificultam o desenvolvimento do setor no Estado –e no país como um todo.

“São pontos básicos que precisam ser trabalhados dentro de uma agenda mais profunda, é importante pensar num plano de desenvolvimento de longo prazo. Todos os bons exemplos mundiais de industrialização sabiam o que deveriam fazer, como a Coreia do Sul, países do leste asiático e o próprio Chile. Havia um plano de longo prazo que envolveu a reestruturação de ambiente macroeconômico.”

 O economista Guilherme Muchale, da FIEC, defende plano de longo prazo para o desenvolvimento regional

 

A base do sistema de representação da indústria no Brasil conta com 27 federações que reúnem mais de 1250 sindicatos e 700 mil empresas. Juntas essas instituições defendem os interesses do setor produtivo na busca de um ambiente de negócios favorável ao desenvolvimento sustentável do país.