
Os data centers (centros de processamento de dados) são a espinha dorsal da economia digital, mas uma dúvida comum paira sobre o o impacto social: eles realmente criam empregos? Especialistas reunidos em painel da CNI na Zona Azul da COP30, em Belém, neste sábado (15), debateram a infraestrutura digital no Brasil e confirmam que sim, eles criam empregos, mas de forma mais ampla do que se imagina, movimentando toda a cadeia produtiva.
Efeito multiplicador de empregos
A criação de empregos por data centers não se limita aos técnicos que trabalham dentro das instalações. O diretor de Sustentabilidade da SAP, Pedro Pereira, destaca o efeito multiplicador: “Para cada posto de trabalho aberto dentro do data center, cinco empregos são criados a partir do movimento de todo o ecossistema”.
Segundo ele, esse impacto abrange toda a vida útil da infraestrutura, do desenho à construção, passando pela operação e pelos serviços. Embora a abertura de vagas diretas possa não ser tão volumosa quanto a de outros setores, países como Irlanda e Alemanha já registraram aumentos de PIB ao incorporar o setor à sua economia, conforme apontou Pereira.
Oportunidades únicas para o Brasil
O Brasil está em uma posição privilegiada para transformar os data centers em um novo vetor de exportação e crescimento. Entre os fatores competitivos destacados no painel estão:
Energia limpa e excedente: o país opera majoritariamente com energia renovável e ainda dispõe de excedente.
O presidente da Schneider Electric para a América do Sul, Rafael Segrera, reforçou a vantagem: “O fato de os data centers consumirem muita energia é positivo para o Brasil, porque temos sobra de energia limpa. Isso nos permite exportar não só dados, mas também o valor de uma energia renovável que o mundo procura”.
Abundância hídrica: o Brasil tem disponibilidade de água muito superior à de países vizinhos
Segrera acrescentou: “Quando olhamos de forma holística, só vemos benefícios. Poucos países combinam energia renovável barata e abundância hídrica como o Brasil”.
Com cerca de 600 megawatts já instalados no país, a oportunidade para a América Latina pode chegar a 5 gigawatts, mas o avanço depende de decisões rápidas. “A gente não pode perder essa janela. Precisamos de incentivo e clareza nos normativos para destravar investimentos”, disse Segrera.
Desafios e o papel da conectividade
Para que o Brasil se torne um hub global e não apenas um “grande exportador de energia barata” será essencial fortalecer sua base produtiva.
O diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES, José Luis Gordon, alertou para o primeiro gargalo: “Antes de qualquer coisa, precisamos falar de conectividade. Falta conectividade no Brasil, e sem isso não há estratégia digital possível”.
Gordon reforçou que o desenvolvimento da cadeia local é decisivo: “Queremos que a tecnologia seja criada aqui, que os fornecedores se desenvolvam aqui. Caso contrário, vamos só abastecer data centers globais com energia barata, sem capturar valor”.
Ele destacou que o banco já criou linhas de financiamento específicas para data centers e quer estimular a instalação dessas estruturas no Nordeste, onde o custo de financiamento é menor e há potencial para impulsionar o desenvolvimento regional.
Preparar mão de obra e agir rápido
A expansão do setor também exigirá competências técnicas alinhadas às demandas da inteligência artificial. De acordo com os painelistas, instituições como o SENAI terão papel central na qualificação profissional necessária para que o Brasil acompanhe a velocidade das transformações tecnológicas.
De forma geral, os painelistas afirmaram que, para aproveitar o potencial estimado de 5 gigawatts na América Latina, o país precisa acelerar decisões regulatórias, aprimorar a conectividade e fortalecer a cadeia produtiva, sob risco de perder uma oportunidade estratégica na economia digital global.
CNI na COP30
A participação da CNI na COP30 conta com a correalização do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e do Serviço Social da Indústria (SESI).
Institucionalmente, a iniciativa é apoiada pela Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil), Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), First Abu Dhabi Bank (FAB), Sistema FIEPA, Instituto Amazônia+21, U.S. Chamber of Commerce e International Organisation of Employers (OIE).
A realização das atividades da indústria na COP30 recebe o patrocínio de Schneider Electric, JBS, Anfavea, Carbon Measures, CPFL Energia, Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Latam Airlines, MBRF, Pepsico, Suzano, Syngenta, Acelen Renováveis, Aegea, Albras Alumínio Brasileiro S.A., Ambev, Braskem, Hydro, Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), Itaúsa e Vale.
Reportagem e foto: Agência de Notícias da Indústria / Letícia Carvalho