Logística e juros estão entre os principais entraves à competitividade das exportações brasileiras, diz CNI

9/12/2025   10h25
Foto: Shutterstock

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Os quatro principais entraves às exportações brasileiras dizem respeito a problemas de logística e infraestrutura. É o que mostra a pesquisa Desafios à Competitividade das Exportações Brasileiras, divulgada nesta terça-feira (9) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Aspectos macroeconômicos, como os juros elevados, também entram no rol dos maiores entraves às vendas brasileiras ao exterior.

 

 

A pesquisa ouviu empresas exportadoras para avaliar o impacto de 50 diferentes entraves sobre os processos de exportação nos últimos dois anos. De acordo com os dados, o custo do transporte internacional é o maior entrave, apontado por 58,2% dos empresários como fator de impacto elevado ou crítico (notas 4 e 5 em uma escala de 1 a 5).

 

 

Na sequência, aparecem a ineficiência dos portos para manuseio e embarque das cargas (48,5%); limitações de rotas de navegação marítima, de espaço ou de contêineres (47,7%); elevadas tarifas cobradas pelos portos (46,2%); e volatilidade da taxa de câmbio (41,8%) – o primeiro dos entraves não relacionado à logística.

 

 

O presidente da CNI, Ricardo Alban, alerta que as questões internas afetam enormemente as exportações e a competitividade da indústria brasileira frente ao mercado internacional. Alban observa que o Brasil passa por um momento decisivo em sua inserção internacional, em que os problemas internos de natureza estrutural se somam aos desafios externos – marcados por tensões comerciais e pela adoção de medidas restritivas por diferentes economias.

 

 

“Mais do que nunca é indispensável fortalecer a capacidade da indústria nacional de ganhar espaço em mercados exigentes e dinâmicos”, enfatiza o presidente da CNI. “O Brasil não pode perder tempo. Precisamos eliminar gargalos internos com ação coordenada entre governo e setor privado. As reformas devem contemplar tanto a melhoria da competitividade quanto a ampliação do acesso a mercados”, acrescenta Alban.

 

 

O estudo destaca que a competitividade das exportações brasileiras segue comprometida por entraves estruturais e institucionais, como a burocracia alfandegária e aduaneira, a infraestrutura inadequada e a complexidade do arcabouço normativo do comércio exterior.

 

 

 

Falta de acordos comerciais com parceiros estratégicos dificulta acesso a mercados externos

Em relação ao acesso a mercados externos, a pesquisa revela que a ausência de acordos comerciais com os países de destino das exportações é o maior entrave para a indústria nacional – resposta de 25,8% dos empresários. Depois, aparecem queixas como a existência de barreiras tarifárias (22,7%), barreiras não tarifárias (21,7%), abrangência insuficiente dos acordos comerciais (20,9%) e regulamentações restritivas e discriminatórias de sustentabilidade (9,7%).

 

 

Os dados revelam ainda que 31% das empresas indicaram ter enfrentado barreiras nos mercados de destino das exportações. Entre essas, 67,2% apontaram a existência das tarifas de importação como principal entrave de acesso aos mercados externos. Na sequência, aparecem a existência de burocracia aduaneira no país de destino (37,8%), de normas técnicas (37%), de medidas de defesa comercial (28,6%) e medidas sanitárias e fitossanitárias (25,2%).

 

 

Quando perguntados com quais países o Brasil já está negociando ou manifestou intenção de negociar acordos de cooperação e facilitação de investimentos, os pesquisados apontaram que os países prioritários são os Estados Unidos (69%) e a China (34%).

 

 

Questões tributárias foram apontadas como críticas por entrevistados

A alta tributação na importação de serviços utilizados para exportação foi considerada crítica por 32,1% das empresas. Outros entraves incluem a complexidade dos regimes especiais e dificuldades para ressarcimento de créditos tributários. Embora instrumentos como Drawback sejam usados, a adesão ainda é limitada por falta de informação e burocracia.

 

 

Complexidade normativa e insegurança jurídica: entraves regulatórios

A multiplicidade de interpretações legais e a proliferação de normas descentralizadas afetam a previsibilidade das operações. 29,1% das empresas apontaram insegurança jurídica como entrave crítico, enquanto leis conflituosas e pouco efetivas foram mencionadas por 25%. A simplificação regulatória é essencial para reduzir custos e riscos.

 

 

Excesso de documentos e falta de integração dificultam os processos

A burocracia continua sendo um obstáculo relevante. O excesso e a complexidade de documentos foram citados por 27,3% das empresas, seguidos pela ausência de janela única de inspeções (26%) e falta de sincronismo entre órgãos (25%). Apesar de avanços pontuais, a percepção de criticidade aumentou, indicando necessidade de acelerar a digitalização e integração dos processos.

 

 

Comparação com a pesquisa realizada em 2022

A pesquisa Desafios à Competitividade das Exportações Brasileiras é feita pela CNI desde 2002 para diagnosticar os principais obstáculos e subsidiar políticas voltadas ao aumento das exportações brasileiras.

 

 

O custo do transporte internacional também foi o maior entrave apontado na última edição da pesquisa – em 2022 –, por 60,7% dos entrevistados. Em 2025, o obstáculo foi apontado por 58,2% das empresas ouvidas. Já a ineficiência dos portos, que é o segundo maior entrave apontado na atual pesquisa (por 48,5% dos respondentes) apareceria apenas na 14ª posição em 2022, considerado obstáculo por 26%.

 

 

Na comparação com a pesquisa realizada em 2022, houve melhora pontual no custo do transporte doméstico, mas por outro lado os empresários apontaram agravamento de entraves logísticos e institucionais, como a ineficiência dos portos e maior queixa de juros altos. “Ao longo de duas décadas, a pesquisa tem colaborado com o aperfeiçoamento do ambiente de negócios, ao oferecer evidências concretas sobre as adversidades que minam a competitividade da indústria nacional”, pontua o presidente da CNI.

 

 

“A elaboração desse diagnóstico é imprescindível para a direcionar os caminhos e elencar prioridades na política de comércio exterior. Os resultados devem nortear a estratégia de política comercial brasileira e contribuir com a ampliação da participação do país no comércio mundial”, afirma a gerente de Comércio e Integração Internacional da CNI, Constanza Negri.

 

 

 

 

Indústria brasileira apresenta propostas para impulsionar competitividade das exportações

A CNI defende propostas para melhorar a competitividade das exportações baseadas nos achados das pesquisas de competitividade, com foco em financiamento à exportação, da tributação, da logística, da integração internacional, da facilitação de comércio e da governança.

1. Financiamento à exportação

  • Modernizar e diversificar instrumentos de apoio, garantindo previsibilidade orçamentária e alinhamento às melhores práticas internacionais.
  • Reestruturar o lastro do Seguro de Crédito à Exportação para ter fonte própria e estável.

2. Tributação e regimes especiais

  • Simplificar e digitalizar regimes especiais (Drawback, Recof), reduzindo custos de conformidade.
  • Expandir a rede de Acordos para Evitar a Dupla Tributação (ADTs), priorizando parceiros estratégicos como EUA, Alemanha e Reino Unido.

3. Logística e infraestrutura

  • Implantar a Janela Única Aquaviária e o Sistema Comunitário Portuário (Port Community System).
  • Reduzir tarifas portuárias e aeroportuárias, com revisão regulatória e estímulo à concorrência.

4. Facilitação do comércio

  • Concluir a implementação do Portal Único de Comércio Exterior.
  • Fortalecer o Programa Operador Econômico Autorizado (OEA).
  • Criar um Comitê Nacional de Barreiras Comerciais com participação do setor privado.

5. Acordos comerciais e integração internacional

  • Priorizar a internalização dos acordos Mercosul–União Europeia e Mercosul–EFTA.
  • Retomar negociações com EUA e Canadá para acordos de nova geração.
  • Expandir acordos regionais com América Latina e Caribe, incluindo serviços e investimentos.

6. Governança e monitoramento

  • Criar um Observatório da Competitividade das Exportações vinculado à Camex.
  • Estabelecer metas anuais de melhoria nos indicadores de competitividade.

 

 

Confira o documento completo sobre os desafios das exportações: Desafios competitividade exportacoes_2025_v2 (1) (2).pdf(7,2 MB)