Roberto Serquiz, industrial, Presidente do Sistema FIERN
Direto ao ponto: “RN gasta 72% da receita total com pagamento de servidores, aponta Tesouro Nacional”, estampou a Tribuna do Norte em 23 de agosto de 2025. A manchete fala por si: o Rio Grande do Norte, segundo dados do 3º bimestre de 2025, lidera o ranking nacional de comprometimento da receita com gastos de pessoal e previdência. É um dado alarmante.
Na prática, conforme o Tesouro Nacional, quase todo o orçamento do Estado é consumido pela manutenção da máquina pública, sobrando apenas 2% para investimentos e outros 2% para o serviço da dívida. Pior: a despesa com a Previdência Estadual já supera o que é destinado a áreas essenciais como Saúde e Educação. Para se ter ideia, o déficit do Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) alcançou R$ 1,104 bilhão em 2025.
E não se trata de queda na arrecadação. Pelo contrário: o RN registrou aumento de 12% nas receitas correntes.
O que causa indignação é o silêncio público em torno de um quadro que representa um desafio de enorme complexidade. Usar termos duros para descrever a gravidade da crise não seria exagero. Este deveria ser o debate central do Rio Grande do Norte e, sobretudo, a pauta obrigatória dos pré-candidatos às eleições de 2026, com a obrigação de responder a uma pergunta crucial: “o que fazer?”.
Deixo, por aqui, algumas sugestões e espero, sinceramente, que – mesmo para serem contrariadas – os dirigentes e lideranças públicas pensem a respeito. A primeira é uma reforma da Previdência Estadual que envolva maior participação dos Poderes Legislativo e Judiciário. Em paralelo, uma reforma administrativa capaz de conter o crescimento vegetativo da folha, rever cargos e cessões, e valorizar a meritocracia. A modernização, apoiada em digitalização, tecnologia e gestão eficiente, precisa vir acompanhada da redução de despesas, do controle rigoroso de perdas e da busca incessante por eficiência.
No curto prazo, porém, uma medida concreta e viável, é se avançar na privatização de ativos do Estado. No Rio Grande do Norte sem recursos para investimentos, a discussão sobre privatização é inevitável. Empresas deficitárias, imóveis ociosos, participações em setores em que o Estado não precisa estar presente, precisam ser revistas, para aliviar o caixa, abrir novas frentes de investimentos e constituir um fundo de desenvolvimento – de forma que o RN possa gerar as contrapartidas necessárias para obras estruturantes fundamentais ao seu crescimento.
É preciso, enfim, fortalecer de forma clara e incisiva a atividade econômica. Criar condições para manter empreendimentos, atrair novos investimentos, ampliar a arrecadação e estimular a circulação de renda. Isso exige decisão política articulada entre Poderes, órgãos públicos e sociedade civil. Somente uma grande aliança em torno do equilíbrio fiscal permitirá recolocar o Rio Grande do Norte no caminho do desenvolvimento econômico sustentável.