Confederação Nacional da Indústria propõe política nacional para atrair investimentos e consolidar o país como hub estratégico em infraestrutura digital na América Latina
Confederação Nacional da Indústria propõe política nacional para atrair investimentos e consolidar o país como hub estratégico em infraestrutura digital na América Latina
Você já ouviu falar sobre data centers? Traduzido, do inglês como banco de dados, o data center é uma instalação física com infraestrutura de TI para armazenar e processar grandes volumes de dados de terceiros. É construído em torno de um ecossistema de infraestrutura física e digital para suporte de suas atividades.
Os data centers se tornaram uma parte essencial da infraestrutura digital em um mundo cada vez mais conectado. À medida que tecnologias emergentes como Inteligência Artificial (IA) e Internet das Coisas (Internet of Things – IoT) se tornam mais amplamente adotadas, mais poder de computação é necessário para analisar dados sofisticados e mais infraestrutura digital robusta e confiável é necessária.
Até 2029, 60% da capacidade mundial de armazenamento e processamento de dados será preenchida apenas por data centers, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Diante do crescimento exponencial, o Brasil precisa construir uma política nacional para ganhar relevância como hub de infraestrutura digital na América Latina, uma vez que reúne vantagens como matriz energética renovável, mercado tecnológico em expansão e localização geográfica estratégica.
Atualmente, o mundo conta com mais de 11,8 mil data centers, sendo os Estados Unidos líderes absolutos, com 46%, seguidos por países como Alemanha, Reino Unido, Irlanda, Suécia e Índia, que adotaram políticas públicas assertivas para atrair e expandir esse tipo de investimento.
O Brasil é o 11º país com maior número de data centers, com 163 em operação, grande parte concentrados no estado de São Paulo, base das quatro maiores unidades do país. Rio de Janeiro, Ceará e Rio Grande do Sul aparecem como polos menores, além de Goiás, onde opera o quinto maior data center brasileiro.
O desempenho dos data centers está intrinsecamente relacionado ao consumo energético, que pode representar entre 40% e 60% dos custos operacionais. De acordo com uma análise da McKinsey & Company, a demanda global por capacidade de data centers pode mais que triplicar até 2030, chegando a até 219 GW/ano.
Esse crescimento é impulsionado sobretudo por uma aceleração maciça no uso de IA, especialmente IA generativa, que exige alto poder computacional e densidade de potência.
No Brasil, o desafio climático também entra na conta: por estar em uma região tropical, o país demanda mais energia para refrigerar os equipamentos dos data centers, já que as altas temperaturas impedem o uso de técnicas de resfriamento natural comuns em países de clima frio.
Mercados como os dos países nórdicos, Canadá e Austrália ganham destaque pelo uso de energia renovável e clima frio, fatores que favorecem a operação eficiente dos Data Centers.
O país, apesar de ter custo operacional com resfriamento, apresenta vantagens comparativas decisivas. A matriz elétrica nacional é uma das mais verdes do mundo: 89% da energia gerada no país é de fontes renováveis, superando em 23 pontos percentuais o segundo colocado, o Canadá.
O consumo atual de energia pelos data centers brasileiros representa menos de 5% da capacidade instalada, segundo o Ministério de Minas e Energia, desmistificando o temor de sobrecarga no fornecimento.
Em resposta a esse cenário, a CNI elaborou a Proposta de Política Nacional para Atração de Data Centers, estruturada em três eixos principais: atração de investimentos voltados à exportação de serviços digitais, estímulo à internacionalização de operadores brasileiros e fortalecimento da cadeia produtiva nacional.
A proposta sugere incentivos fiscais, segurança regulatória, estímulo à formação de mão de obra qualificada e parcerias público-privadas como pilares centrais para impulsionar o setor. Entre as medidas sugeridas estão:
A estimativa é de que a proposta possa gerar até R$ 7 bilhões em arrecadação tributária, além de atrair big techs e fomentar cadeias produtivas de alto valor agregado. O diretor de desenvolvimento industrial, tecnologia e inovação da CNI, Jefferson Gomes, explica que a medida alia estímulo ao investimento externo, valorização da indústria nacional, geração de empregos qualificados e desenvolvimento sustentável.
“Essa é uma oportunidade estratégica para posicionar o país como hub digital da América Latina, reduzir o déficit da balança do setor de tecnologias da informação e comunicação e consolidar uma infraestrutura moderna para os desafios do século XXI”.
Ao contrário da percepção comum de que data centers automatizam e concentram funções, o levantamento da CNI aponta também que para cada R$ 1 bilhão de aumento na produção do setor, estima-se a criação de 7 a 8 mil novos empregos.
Além disso, os salários pagos no setor de tecnologia da informação e comunicação (TIC) são, em média, 60% superiores aos demais postos formais na economia, chegando a ser quatro vezes maiores que o salário-mínimo. Enquanto o salário médio de setores como agricultura e serviços é de R$ 3.860,00, a média salarial de um profissional de TIC é de R$ 6.146,00.
Entre 2015 e 2022, o número de empregos formais no setor aumentou 50% e a tendência é que esse aumento continue nos próximos anos. Isso engloba engenheiros, técnicos de TI, profissionais de infraestrutura, telecomunicações e logística. Jefferson Gomes reforça que investir em infraestrutura digital, como data centers, vai além da inovação tecnológica. “Essa é também uma estratégia de valorização do trabalho qualificado e de dinamização da economia nacional”, explica.
Os investimentos no setor impulsionam cadeias produtivas estratégicas, como fornecimento de equipamentos elétricos, serviços especializados e desenvolvimento de soluções digitais. A presença de um ecossistema robusto de data centers também estimula a atualização de currículos acadêmicos e a formação de capital intelectual local, reforçando a soberania tecnológica do país.
Nos Estados Unidos, por exemplo, país líder absoluto na concentração de data centers, cada emprego direto em data centers sustenta mais de seis empregos indiretos em setores como construção civil, conectividade, segurança e manutenção.
Um estudo norte americano mostra também que cada dólar de valor investido diretamente em Data Centers nos EUA esteve vinculado a US$ 2,7 de valor adicionado em outras partes da economia.
Em 2023, o macrossetor de tecnologia da informação e comunicação alcançou R$ 707,7 bilhões em valor de produção, o equivalente a 6,5% do PIB, consolidando o Brasil como o décimo maior mercado mundial e responsável por 30% do mercado de TIC na América Latina.