O Dia Internacional da Mulher, celebrado nesta sexta-feira, 8 de março, foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) para representar a longa batalha pela igualdade de gênero. Na indústria, diversas trajetórias se entrelaçam, evidenciando o papel ativo das mulheres na busca pela equidade e pelo crescimento econômico. A Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (FIERN) guarda parte dessas histórias de contribuição efetiva para o desenvolvimento.

 

Um levantamento do Observatório Nacional da Indústria da CNI mostra que, nos últimos 10 anos, as mulheres ganharam espaço em funções de tomada de decisões. A participação delas em cargos de liderança passou de 35,7%, em 2013, para 39,1%, em 2023 – um aumento de cerca de 9,5%. O estudo foi feito a partir dos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

Conceição Tavares é uma dessas lideranças dentro do cenário industrial potiguar. Junto ao marido, fundou a Iplan – Indústria de Plásticos Andrea – localizada em Parnamirim. A empresa é pioneira no estado na fabricação de mangueira de irrigação. Hoje, produz também para a área da construção civil.

 

Atualmente compõe o quadro de vice-presidentes da FIERN e preside o Sindicato das Indústrias de Material e Laminados Plásticos do Estado do Rio Grande do Norte (SINDIPLAST-RN). Ela conta que, no início, atuar na indústria foi um desafio. “Saí de uma vida voltada para os afazeres domésticos para me aventurar em uma área, à época, predominantemente masculina”, disse.

 

Em constantes avanços, mais mulheres têm se juntado ao setor para promover desenvolvimento. Àquelas que desejam se juntar a essa história, Conceição Tavares diz: “Meu conselho é estudem, se especializem, tracem metas e lutem para alcançá-las. Mesmo em 2024, a mulher tem que lutar muito para conseguir seu espaço, por isso temos que comemorar esse dia 08 de março. Dia de celebrar nossas conquistas”, conclui.

 

Exemplo de firmeza e humanidade

 

Quem também segue firme nesse papel é Zauleide Queiroz, co-fundadora da Ster Bom e presidente do Sindicato da Indústria de Sorvetes, Congelador e Derivados do Estado do Rio Grande do Norte (SINDSORVETE-RN).

 

Depois da fundação da empresa, Zauleide Queiroz buscou se especializar para, com mais conhecimento, levar a empresa junto ao marido, Antônio Leite Jales. Desta maneira, formou-se em Administração de Empresas, pela Universidade Potiguar (UnP), em 2003. Mais tarde, fez pós-graduação em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Hoje, a empresária ocupa o cargo de Diretora Administrativa-Financeira e atua no gerenciamento de um time composto por mais de 900 funcionários. A Ster Bom possui nove marcas dos mais variados produtos, como sorvetes, casquinhas, água mineral, gelo e açaí.

 

De acordo com ela, o papel da mulher na indústria é um acréscimo de humanidade, organização e clareza na tomada de decisões. “Não só na indústria, mas em qualquer setor, o papel da mulher é um somatório junto aos demais. A mulher é mais prudente, mais organizada, mais centrada. Ela pensa com mais clareza, é mais cautelosa nas decisões. Nós, enquanto mulheres, temos um potencial muito bom a ser explorado”, disse.

 

E espera que essa participação seja crescente nos próximos anos. “Tenho certeza de que irá crescer ainda mais, apesar das dificuldades que passamos. Por isso, acho que é muito importante nos unirmos, darmos as mãos e partirmos para cima, para poder passar pelas turbulências da vida. Eu acho que temos que arregaçar as mangas para o mercado”, complementa.

 

Futuro na indústria

 

Helane Cruz é presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem do Rio Grande do Norte (SIFT/RN), eleita em 2022.

Sua carreira na indústria teve inicio em 2009, através do primeiro estágio em uma indústria automobilística, na época estudante de Serviço Social. Hoje é responsável pelo setor de Recursos Humanos da Vicunha Têxtil.

Para Helane, a presença das mulheres na liderança industrial é de suma importância. Ela enfatiza a capacidade multifacetada das mulheres, destacando sua habilidade em equilibrar aspectos técnicos e humanos na gestão. “A mulher consegue abrir muitas gavetas ao mesmo tempo em seu processo mental para mobilizar mão de obra e trazer leveza à gestão de pessoas, processos e negócios”, afirma.

 

Quanto ao futuro da participação feminina na indústria, Helane se mostra otimista. Ela observa um movimento crescente em prol da diversidade e inclusão nos processos de gestão, refletindo em uma maior representatividade feminina em cargos de liderança. “Espero que a participação feminina triplique nos próximos anos”, declara.

 

Com líderes visionárias como Helane Cruz pavimentando o caminho, a indústria se prepara para uma era de inclusão, inovação e sucesso, na qual o talento e a determinação das mulheres brilharão intensamente. “Estudar sempre e ter comprometimento. O conhecimento é essencial para permanecer e evoluir na carreira, independentemente da posição inicial”, finaliza.

Inspiração familiar

 

Tercina Suassuna compõe o quadro da diretoria da FIERN e é vice-presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico do RN (SIMETAL-RN). Ao longo de sua trajetória, participou de diversos projetos dentro da Casa da Indústria, como representante do Comitê de Lideranças Empresariais pela Inovação no Estado do RN e a composição da COINCITEC – Comissão Temática de Inovação Ciências e Tecnologia do RN.

 

Ela conta que sua principal inspiração foi o pai. “Desde a infância, testemunhei meu pai desbravando uma indústria em situação totalmente improvável, desde a falta de recursos financeiros, falta de apoio, falta de conhecimento teórico, logística precária, mas cheio da convicção de que suas escolhas estavam certas. Ele tinha apoio da minha mãe e de alguns amigos e juntos eles transformavam matéria-prima em solução acabada, aquilo era muito mágico! Essa foi minha inspiração. Fiquei apaixonada pela indústria”, detalha.

 

Suassuna comenta que os avanços da liderança feminina no setor industrial, mesmo que ainda não tenha atingido patamares ideais, não devem ser desconsiderados, mas incentivados. “E esses avanços são totalmente possíveis de serem alcançados por meio da transformação cultural e da criação de políticas mais inclusivas dentro das organizações para gerar um mercado de trabalho mais resiliente, no qual competências e habilidades femininas serão tão valorizadas quanto devem ser”, comenta.

 

Às mulheres que desejam seguir o mesmo caminho, ela diz: “A nossa coragem muda o ambiente onde estamos inseridas, pois temos a capacidade de enfrentar adversidades e não desistir, somos resistentes porque somos resilientes por excelência, temos dons e talentos que são próprios da nossa essência e além de nos colocarmos a serviço da nossa família, que é nosso principal papel, temos capacidade de nos colocarmos a serviço da sociedade e da indústria, de cargos e lideranças de pessoas, enfrentando toda e qualquer barreira e vencendo, conquistando os sonhos, os espaços desejados”, finaliza.

 

Fundamentada na resistência

 

Maria de Fátima é fundadora da Bonelaria Dantas, empresa de fabricação e venda de bonés do município de Caicó, no Seridó potiguar. A empresária atua hoje como diretora da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (FIERN).

 

Sua história, acima de qualquer coisa, tem fundamento na resistência. Ao longo dos anos, foi a base da estrutura familiar. “Tem mais de 30 anos que eu montei a empresa com o meu esposo e eu resisti, eu resolvi, mesmo quando ele não acreditava. Eu tomei a frente e mostrei que éramos capazes”, detalhou.

 

E a perspectiva que ela projeta é de que cada vez mais mulheres serão líderes na indústria. “Eu entendo que nós vamos liderar cada vez. Nós, mulheres, vamos conseguir cada vez mais. Podemos ver que todo negócio que é colocado, por trás daquilo, tudo, tem uma mulher. Eu acredito que nós estamos liderando e espero que nossa liderança avance cada vez mais, na indústria e em outros setores”, declara.

 

E finaliza dizendo: “Não tenha medo, insista e não desista. Se você tem vontade de realizar algo, corra atrás. Tem que ter vontade, tem que querer fazer e começar a colocar a mão na massa”, completa.

 

Texto: Líria Paz