O momento de avançar no acordo Mercosul-União Europeia é agora

17/07/2025   13h48

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Movimento das Empresas da França (MEDEF) acreditam que aprofundar as relações comerciais entre a União Europeia (UE) e o Mercosul é uma ação estratégica, que visa fortalecer seus laços econômicos, suas posições no mundo e garantir sua estabilidade e prosperidade mútuas

 

 

Incertezas geopolíticas, crescente protecionismo e ataques ao multilateralismo dos Estados Unidos e da China ressaltam a necessidade de maior cooperação internacional e maior diversificação de nossas parcerias econômicas com países e regiões com os quais compartilhamos história, visão e valores.

 

No Fórum Econômico Brasil-França, realizado à margem da visita de Estado do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva a Paris, em 6 de junho, o tema crucial do acordo entre a União Europeia e o Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai) esteve no centro dos debates.

 

Nós – a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Movimento das Empresas da França (MEDEF), representantes das indústrias brasileira e francesa – acreditamos que aprofundar as relações comerciais entre a União Europeia (UE) e o Mercosul é uma ação estratégica, que visa fortalecer seus laços econômicos, suas posições no mundo e garantir sua estabilidade e prosperidade mútuas.

 

Este acordo representa uma grande oportunidade para criar um mercado de mais de 750 milhões de consumidores, ou quase 10% da população mundial, representando cerca de 20% do PIB global.

 

Para as empresas francesas e brasileiras, há um momento propício para a conclusão deste acordo comercial; ele não pode ser desperdiçado. O Presidente Lula reiterou isso com veemência: o Brasil assumirá a presidência do Mercosul por seis meses, e tem por objetivo assinar o acordo durante seu mandato.

 

O acordo alcançado representa um avanço significativo, trazendo benefícios a médio e longo prazo para as economias de ambas as partes. É moderno e equilibrado, pois reflete os interesses ofensivos e defensivos de ambos os parceiros.

 

Leva em consideração as respectivas sensibilidades, implementando cotas e cláusulas de salvaguarda, ao mesmo tempo em que permite um comércio mais fluido e menos oneroso, especialmente para as pequenas e médias empresas (PMEs) exportadoras. Ele permitirá um acesso equilibrado às compras públicas e o respeito das Indicações Geográficas de produtos.

 

Espera-se que a eliminação de tarifas alfandegárias no Mercosul produza uma economia de mais de € 4 bilhões por ano para exportadores franceses e europeus, reduzindo as taxas alfandegárias sobre mais de 91% das mercadorias (35% para vestuário, 20% para máquinas, 18% para produtos químicos, 14% a 18% para autopeças e 14% para produtos farmacêuticos). Essas tarifas serão gradualmente eliminadas durante um período de transição.

 

Como resultado, as exportações da UE para o Mercosul, avaliadas em € 56 bilhões em bens (2023) e € 28 bilhões em serviços (2022), deverão crescer nos próximos meses e anos. Para os países europeus e as suas empresas, trata-se de uma oportunidade de crescimento econômico e, portanto, de criação de empregos, especialmente para a França, que enfrenta dificuldades nesse quesito.

 

Para o Brasil, o acordo abre perspectivas concretas de aprofundamento da parceria econômica com a União Europeia, com impactos positivos para a economia nacional. Assim que o acordo entrar em vigor, mais de 5 mil produtos terão acesso ao mercado europeu com tarifa zero, abrangendo cerca de R$ 140 bilhões em exportações, o equivalente a quase 90% das vendas brasileiras de bens industriais ao bloco.

 

O comércio com o bloco também tem forte impacto na criação de emprego e renda no Brasil: em 2024, a cada R$ 1 bilhão exportado para a UE foram gerados 21,8 mil empregos no país. Além de ampliar o acesso a bens, o acordo cria bases mais favoráveis para o crescimento dos fluxos de serviços e investimentos, com potencial para modernizar setores produtivos, fomentar inovação e fortalecer a inserção internacional brasileira.

 

Por fim, esse acordo não é definitivo; ele nos dará um quadro dentro do qual poderemos dialogar, cooperar, evoluir e aprofundar nossas relações econômicas nos próximos anos. Algumas disposições do acordo, sensíveis aos olhos de certos setores econômicos, poderão ser ajustadas conforme seja necessário; que isso seja feito com urgência e sem jamais perder de vista os objetivos gerais, todos eles positivos.

 

Por todas essas razões, reafirmamos nosso apoio à assinatura imediata do Acordo de Parceria Mercosul-União Europeia. Não podemos mais ficar apenas observando e deixar passar oportunidades de progresso; muitos empregos e a nossa prosperidade comum dependem disso.

 

 

 

(*) Ricardo Alban é empresário e presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI); Patrick Martin é presidente do Movimento das Empresas da França (MEDEF), principal organização patronal da França, equivalente à CNI no Brasil.