Artigo — “O Brasil não comporta mais do mesmo”, por Roberto Serquiz

23/06/2025   08h33

Roberto Serquiz, industrial, Presidente do Sistema FIERN

 

Convido-lhe a pensar, de forma objetiva, sobre dois fatos que impactam hoje a vida dos brasileiros e tendem, a cada ano, impactar ainda mais. O primeiro fato é uma questão elementar: em qualquer lugar, a despesa não pode ser superior à receita. Ora, lição simples, objetiva, ou seja, ninguém deve gastar mais do que ganha!

 

O segundo fato: os programas sociais de transferência de renda foram planejados para quem não tem remuneração salarial e, portanto, precisam de condições mínimas para terem acesso a alimentação, material de higiene, itens do vestuário. Transferência de dinheiro para os mais vulneráveis, para aqueles que estão fora do mercado de trabalho ou que, por limitações ou circunstâncias diversas, dificilmente terão acesso a oportunidades de trabalho e renda.

 

Sobre os dois fatos, qual é o quadro atual do Brasil? Em resumo, em relação ao primeiro tema, o Governo Federal gasta mais do que arrecada e não sinaliza qualquer “freio nos gastos públicos”. Bem ao contrário! O Governo Federal deseja aumentar alíquotas, impor mais obrigações às empresas para tentar aumentar a arrecadação. Fazendo assim, o mesmo de sempre.

 

Em relação ao segundo fato, segundo apuração feita pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI), em 12 Estados (brasileiros) o número de beneficiários do Programa Bolsa Família é maior que o contingente de trabalhadores com carteiras assinadas. Muitos dos quais com o perfil e até a disponibilidade para o emprego formal, mas se acomodam ou temem perder o benefício governamental. O Presidente da CNI, Ricardo Alban, em recente artigo, conseguiu resumir o sentimento de muitos industriais e empreendedores brasileiros: “Os setores econômicos enfrentam um momento turbulento e extremamente difícil no país, com falta de gente para trabalhar, juros altos, preço da energia exorbitante, gastos públicos sem freio e custos excessivos para produzir”.

 

Direto ao ponto: é preciso ter controle para que os gastos públicos voltem a níveis aceitáveis; responsabilidade para construir o equilíbrio necessário entre os que mais precisam e os que devem ir para o mercado de trabalho. Quanto ao futuro, certamente, teríamos maior otimismo se, agora, fundássemos bases sólidas que viabilizassem o Brasil do amanhã, longe do partidarismo e da polarização, buscando o exercício da política com foco no coletivo, como um meio para promover o bem-estar de todos os cidadãos.

 

Para tanto, sem dúvidas, é necessário maior controle, melhor responsabilidade e criteriosa visão de futuro. Ainda há tempo para os ajustes de rota, mas não é o que estamos vendo. O Governo Federal, exercendo a liderança da gestão pública nacional, está conduzindo o Brasil para um contexto complexo cheio de incertezas. Além do Executivo, todo esse cenário adverso precisa também ter a contribuição dos demais Poderes, onde o maior desafio é quem vai puxar esse processo de aliança. O que não podemos é continuar praticando o mais fácil, onerando e sacrificando a produção e o emprego. O Brasil não comporta mais do mesmo.