Com crescimento exponencial no RN, energia solar chega à marca de 300 MW e traz oportunidades, diz ISI-ER

14/09/2022   11h44

Mello: “Esse é um segmento que engloba micro e pequenas empresas locais e que tem uma capilaridade enorme”

 

O Rio Grande do Norte alcançou a marca de 300 Megawatts (MW) de potência instalada de energia solar, uma evolução de 53% em menos de um ano, que também representou uma série de benefícios socioeconômicos e ambientais.

 

A análise foi divulgada nesta quarta-feira (14) pelo Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), sediado na capital, Natal, e principal referência do SENAI no Brasil em Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (PD&I) em energia eólica, solar e sustentabilidade.

 

A partir de dados publicados nesta semana pela Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), apontando os 300 MW como “um novo marco” do setor a ser comemorado no estado, e de informações da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o Instituto avaliou o que chama de “crescimento exponencial” da geração distribuída, a modalidade que engloba sistemas de geração de energia para residências e outros estabelecimentos de micro, pequeno e médio portes.

 

“Essa é uma nova atividade no estado, uma nova cadeia que surgiu e vem crescendo nos últimos sete anos, com mão de obra local, extremamente pulverizada em todos os municípios e gerando empregos de forma generalizada”, diz o diretor do SENAI do Rio Grande do Norte, do ISI-ER e do Centro de Tecnologias de Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER), do SENAI-RN, Rodrigo Mello.

 

“É um segmento que engloba micro e pequenas empresas locais e que tem uma capilaridade enorme, como vista em poucas atividades hoje”, acrescenta.

 

ABSOLAR apontou os 300 MW, nesta semana, como “um novo marco” do setor a ser comemorado no estado

 

Economia
A contribuição da fonte solar para ampliação da matriz energética é apontada como outra vantagem nesse contexto de crescimento, com impactos diretos para o meio ambiente e o bolso do consumidor. É que mais energia eólica e solar na matriz implica em menos uso de termelétricas, que utilizam fontes de origem fóssil – mais caras e poluentes.

 

A geração própria de energia solar também ajuda a evitar o racionamento e a afastar a bandeira vermelha da conta de luz – que significa tarifas mais altas – quando os reservatórios das hidrelétricas estão em níveis críticos.

 

“O crescimento da geração própria de energia solar pode fazer a conta de luz de todos os brasileiros ficar mais barata, mesmo as de quem não tem um sistema solar próprio instalado na sua residência”, ressalta a ABSOLAR, com base em estudo (fazendoacontacerta.org.br) que encomendou à consultoria Volt Robotics.

 

A pesquisadora líder do Laboratório de Energia Solar do ISI-ER, Samira Azevedo, avalia que a evolução da geração distribuída é uma “notícia animadora”. “Ver esse crescimento mostra como a energia solar tem se tornado um bem acessível e como a conscientização para uso da fonte tem sido benéfica”, diz ela.

 

“Em 2015 nós chegamos ao nosso primeiro 1 MW e foi um sucesso na época. Em 2021 marcamos 196 MW e em 2022 o ano nem terminou e já chegamos a 300 MW”, acrescenta.

 

Trabalho
O desenvolvimento do segmento de energia solar distribuída também contribui para a ampliação do mercado de trabalho, especialmente na área de eletricidade. “Nós temos sentido isso no SENAI, com uma busca crescente por qualificação nas ocupações que envolvem o setor de energia. São profissionais que muitas vezes começam como instalador/a predial, eletricista predial, e que andam por diversas áreas até chegar à energia solar e à mais qualificação em cursos como os de segurança do trabalho, fundamentais nesse ramo”, frisa Rodrigo Mello.

 

Entre os anos 2017 e 2021 o CTGAS-ER, referência do SENAI no Brasil em formação profissional para o setor de energias renováveis, registrou 1059 matrículas em cursos especificamente de energia solar. Desse total, a maior fatia, 33,62%, buscava formação como Instalador/a de Sistemas Fotovoltaicos – profissionais que representam mais da metade da força de trabalho na área, segundo a Associação Potiguar de Energias Renováveis (APER).

 

Este ano, segundo projeções da Associação, cerca de 4.500 empregos diretos são esperados na energia solar distribuída no estado e 70% das vagas devem ser abertas para essa ocupação.

 

O curso de formação de instaladores e instaladoras permanece entre os que registram maior demanda. No ranking dos mais procurados neste ano, no CTGAS-ER, Boas práticas de montagem de estruturas metálicas para usina solar fotovoltaica e Introdução às tecnologias em geração fotovoltaica também aparecem no “TOP 5”, junto com cursos de energia eólica.

 

No campo da educação profissional, outro marco em 2022 foi o lançamento da primeira Especialização Técnica do Rio Grande do Norte em Sistemas Fotovoltaicos, os sistemas que geram energia solar. O curso é ofertado pelo CTGAS-ER, com duração de um ano.

 

“Há incremento da demanda, ampliação da oferta de cursos e uma série de indicadores, em especial o número de projetos com garantia de conectividade na rede, sugere que esse setor irá se manter aquecido durante muito tempo”, frisa Rodrigo Mello.

 

Segundo ele, empresas de comércio, serviços, indústrias e residências, que representam mais de 90% de participação na potência instalada do setor, já enxergaram o impacto positivo da energia solar nas finanças. “O encarecimento da conta de energia tem levado mais gente a buscar essa alternativa e isso, claramente, tem ajudado a puxar essa aceleração que estamos vendo”.

 

Dados da EPE também mostram o cenário de aceleração para a geração distribuída de energia solar no RN

 

Desafio
A pesquisadora Samira Azevedo enxerga que a difusão de informações sobre as vantagens geradas ainda é um desafio, entretanto, para que o uso cresça com mais velocidade. “Tem muita gente que não sabe que pode ter um sistema fotovoltaico, que desconhece linhas de crédito ou que não sabe que tamanho de sistema comprar, que equipamento escolher”, afirma. O SENAI-RN e o SEBRAE têm realizado consultorias e encontros, diz ela, para dar orientações e preencher lacunas como essas.

 

O custo, por sua vez, ela vê como mais acessível. “O grande carma das energias renováveis sempre foi que o equipamento é caro, que a gente não tinha condições de comprar, mas isso está mudando, esse é um mercado crescente e a gente está vendo que a energia solar vai se tornando um bem de consumo como outros itens que temos em casa”.