A Comissão Temática de Energias Renováveis da FIERN (COERE) debateu o curtailment na geração de energia por fontes eólica e solar, nesta terça-feira (13), em reunião na Casa da Indústria. O curtailment, que pode ser traduzido como “restrição”, refere-se à limitação da geração de energia imposta a usinas mesmo quando há condições ideais de vento ou sol, devido a gargalos na rede de transmissão.
O tema se tornou uma das principais pautas do setor de energias renováveis desde o segundo semestre de 2024, quando as primeiras restrições passaram a ser impostas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que é responsável pela coordenação e controle da operação das instalações de geração de energia elétrica no país.
O presidente da COERE, Sérgio Azevedo, destaca que o papel da comissão é pensar em soluções para auxiliar na tomada de decisões a respeito do tema. “Estamos buscando uma solução que encontre um equilíbrio para que essa fonte de energia não seja tão prejudicada. E não só a fonte de energia em si, mas o setor, a cadeia de prestação de serviços, a cadeia de suprimentos que foi, durante os últimos 15 anos, sendo construída para atender um determinado segmento da indústria que pode simplesmente morrer em razão de alguma falta de providência”, afirma.
“Acho que o caminho é buscar formas de escoamento para essa energia, aumentando a demanda de consumo de energia aqui no Nordeste e aqui no Rio Grande do Norte, seja através de data centers ou da industrialização, que gera empregos de qualidade e distribui renda e riqueza”, completa Azevedo.
Os aspectos técnicos, regulatórios e estratégias de resolução do curtailment das energias renováveis foram detalhados, na reunião da COERE, pelo presidente do Centro de Estratégias em Recursos Naturais & Energia (Cerne), Darlan Santos. Ele explica que os cortes atingem as usinas incluídas no sistema de geração centralizada, aquele onde a energia é produzida em grandes usinas e depois distribuída através de linhas de transmissão para atingir os consumidores.
“As razões para os cortes podem estar ligadas a indisponibilidade em instalações externas à usina, tipicamente indisponibilidade do sistema de transmissão; a atendimento a requisitos de confiabilidade elétrica; ou pela impossibilidade de alocação de geração de energia na carga”, explica Darlan.
Entre os impactos econômicos do setor, são calculados R$ 1,6 bi de perdas no ano de 2024, enquanto 2025 já registra cerca de R$ 2 bi de perdas. “O desenvolvimento estratégico para aumento da demanda regional de energia é fundamental para buscar uma solução aos cortes. A região Nordeste tem dificuldade de escoamento da carga para outros subsistemas por limitações de transmissão, mas pode encontrar iniciativas para o consumo local”, completa o presidente do Cerne.
O analista técnico do Observatório da Indústria Mais RN, Pedro Albuquerque, apresentou dados do Índice de Confiança das Energias Renováveis (ICER), termômetro da confiança do setor no estado. “Registramos o índice há mais de um ano junto aos parceiros da COERE e, no último levantamento, chegamos ao patamar mais baixo da sondagem, com 66,6 pontos”, aponta.
Entre as razões para a baixa na confiança do setor, o analista destaca o curtailment da geração centralizada, mas outros fatores, como desafios da infraestrutura, alta de juros e insegurança jurídica, foram registrados na sondagem.