Desenvolvimento da indústria e do Brasil: ontem, hoje e amanhã

24/10/2022   16h15

Robson Braga de Andrade, empresário e presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

 

A indústria não poderia ficar de fora da celebração do bicentenário da Independência, uma vez que o setor sempre desempenhou papel de grande relevância nas transformações ocorridas na sociedade brasileira, especialmente no desenvolvimento econômico, social e tecnológico do país – desde a importância dos engenhos de açúcar para a economia do Brasil colonial e das pequenas fábricas instaladas por imigrantes ainda no período imperial, passando pelo ciclo de industrialização que se iniciou após o advento da República e alcançou seu ápice na década de 1950, com a chegada da indústria automobilística no país, até os dias de hoje, com a incorporação de tecnologias disruptivas e a digitalização dos processos de produção que caracterizam a Quarta Revolução Industrial.

 

A criação da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em 1938 – articulada por dois dos maiores líderes industriais do Brasil em todos os tempos, Euvaldo Lodi e Roberto Simonsen –, consolidou a criação daquela que hoje, mais de oito décadas depois, é a mais abrangente e expressiva entidade de representação da classe industrial brasileira. Pouco depois, também foram criados o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), em 1942, e o Serviço Social da Indústria (SESI), em 1946, que viriam desempenhar um inestimável papel no processo de desenvolvimento não apenas da indústria, mas do país como um todo.

 

Hoje, o parque industrial brasileiro está entre os mais modernos e diversificados do mundo. Somos destaque na produção de alimentos, bebidas, couro, calçados, têxteis, móveis, celulose e papel, além de diversos outros setores. Temos um segmento de construção pujante, uma mineração forte, uma siderurgia sólida e um setor de petróleo com tecnologia de ponta. Produzimos e exportamos bens de média e alta intensidade tecnológica, como produtos químicos e farmacêuticos, materiais elétricos, veículos automotores, aeronaves, máquinas eletrônicas e equipamentos de transporte e telecomunicações.

 

Graças ao impulso da industrialização, o Brasil ostentou elevadas taxas de crescimento nos primeiros 80 anos do século passado. Nas últimas quatro décadas, entretanto, sucessivas crises econômicas, internas e externas, associadas a antigos problemas estruturais, que elevam o Custo Brasil, levaram a um processo de desindustrialização precoce e acelerada. Esse fenômeno é preocupante, devido à capacidade que a indústria tem de dinamizar a economia e multiplicar riquezas. A cada R$ 1,00 produzido na indústria, são gerados R$ 2,43 na economia nacional. Como base de comparação, na agricultura são gerados R$ 1,75 e nos setores de comércio e serviços, R$ 1,49.

 

Atualmente, o setor industrial é responsável por 72% das exportações brasileiras de bens e serviços, por 68% do investimento empresarial em pesquisa e desenvolvimento e por 33% da arrecadação de tributos federais; emprega 9,8 milhões de trabalhadores e paga os melhores salários; é responsável, também, por viabilizar a competitividade dos demais segmentos da economia, produzindo, por exemplo, maquinários, equipamentos, sementes, fertilizantes e satélites, insumos essenciais para a alta produtividade da agricultura brasileira.

 

Por esses e outros motivos, é fundamental que se busque o fortalecimento da indústria nacional, o que requer ações robustas e simultâneas, em duas frentes. A primeira é a superação dos antigos obstáculos que elevam os custos das empresas e afugentam investimentos, como o sistema tributário complexo e cumulativo, a infraestrutura precária, a insegurança jurídica e a baixa qualidade da educação. A outra é a adoção de uma política industrial moderna, com visão de longo prazo, que promova a produtividade e a inovação, alinhadas às melhores práticas internacionais, e permita às indústrias brasileiras se integrarem às cadeias globais de valor.

 

Ao realizar o projeto “200 Anos de Independência – A Indústria e o Futuro do Brasil”, a CNI, o SESI e o SENAI reafirmam seu compromisso com o desenvolvimento econômico, social e tecnológico do país, de forma ambientalmente sustentável.

 

Acreditamos que, se o “dever de casa” for feito, o Brasil tem tudo para figurar entre as nações mais desenvolvidas do planeta, em um futuro não muito distante – um futuro que traga mais renda, qualidade de vida e bem-estar para toda a população. A indústria brasileira está pronta para rememorar as conquistas do passado e ajudar na construção de um novo tempo para o nosso país.

 

*Robson Braga de Andrade é empresário e presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI).