ISI-ER conclui instalação da maior rede de monitoramento do potencial eólico offshore do Brasil

3/04/2024   17h12

Estudos são realizados por meio de convênio com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e abrangem 38,6% do litoral do país – área conhecida como Margem Equatorial Brasileira: Imagem mostra instalação de equipamentos de medição no Amapá | Foto: Mateus Felipe / ISI-ER_Imagem de Drone

 

O Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) concluiu nesta quarta-feira (3) a instalação da maior rede de monitoramento do potencial eólico offshore do Brasil. 

 

Os estudos são realizados por meio de convênio com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e abrangem 38,6% do litoral do país – área conhecida como Margem Equatorial Brasileira. 

 

Agora, a expectativa do Instituto é apresentar os resultados que serão obtidos na 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), marcada para novembro de 2025, no Pará. 

 

Seis pontos de medição distribuídos do Rio Grande do Norte ao Amapá fornecerão subsídios para o estudo.

 

A instalação do último equipamento – um sensor óptico conhecido como LIDAR (Light Detection and Ranging) – foi iniciada terça-feira (2) e concluída nesta quarta (3), no município de Paracuru, no Ceará.  Por meio de feixes de Laser, a tecnologia capta informações sobre o vento que serão analisadas pelos/as pesquisadores/as.

 

Equipes nas áreas de engenharia, geografia, geologia, oceanografia, meteorologia, além de eletricistas, tecnólogos e técnicos em eletrotécnica e mecânica participam do processo. 

 

A instalação do último equipamento – um sensor óptico conhecido como LIDAR (Light Detection and Ranging) – foi iniciada terça-feira (2) e concluída nesta quarta (3), no município de Paracuru, no Ceará | Foto: André Lira / ISI-ER

 

Mapeamento

O mapeamento é o maior com foco em energia eólica offshore, no Brasil. Segundo o coordenador de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) do ISI-ER, Antonio Medeiros, “o objetivo é acumular os dados medidos para comparar com simulações que também estão em desenvolvimento, validar ao final e então apresentar o potencial energético da área”.

 

“Nós vamos precisar de pelo menos um ano, ou seja, de um ciclo climático completo, para validar a nossa modelagem, mas a ideia é que os equipamentos que instalamos sejam utilizados também depois desse período, como estações de medição permanentes”, acrescenta. 

 

As medições do projeto tiveram início em 2022, no Rio Grande do Norte – estado que lidera a produção brasileira de energia eólica em terra e uma das zonas de investimentos potenciais também no offshore, com 14 projetos à espera de licenciamento no  Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

 

A região que abrange o estado “tem um potencial muito forte para eólica offshore e para hidrogênio de baixo carbono”, segundo o pesquisador. Mas outras áreas também incluídas no levantamento registram escassez de informações e passam por estudos inéditos, por meio da iniciativa. 

 

“Do estado do Maranhão até o Amapá não existem dados observacionais e poucas pesquisas foram feitas para mapear variáveis meteoceanográficas e anemométricas. Há uma escassez de dados muito grande, então quando se fala em estudar essas áreas de olho no aproveitamento energético, quando se faz o mapeamento ambiental e o mapeamento das características meteorológicas, você tem clareza e definição do cenário, com dado medido, com dado concreto”, frisa Medeiros. 

 

O mapeamento deverá apontar quais são os melhores locais para instalação de complexos eólicos offshore no Brasil, mas não só isso. “Do ponto de vista de investimentos, a expectativa é abrir caminho para que as indústrias enxerguem quais os melhores locais para fazer o aproveitamento energético do país e, do ponto de vista social, é poder garantir dignidade energética para as populações que estão no entorno desses investimentos. São áreas que ainda possuem muitas comunidades isoladas, sem acesso a condições básicas de sobrevivência, incluindo acesso à eletricidade, internet de alta velocidade e possibilidades de mobilidade, até para estudar”, analisa o pesquisador. 

 

“Com políticas públicas específicas, implementadas nesse contexto, analisamos que é possível trazer essas populações para a realidade de 2024, com infraestrutura e desenvolvimento sustentável adequado à realidade de um país com uma economia do tamanho do Brasil, preservando o meio ambiente e realizando a integração dessas pessoas no processo de desenvolvimento”, observa ainda.

 

Projetos

Hoje, há no Brasil 96 complexos eólicos offshore com processos de licenciamento abertos no Ibama. Os projetos têm potência somada de 234,22 Gigawatts (GW) e estão divididos entre os estados do Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. 

 

“Os investimentos previstos na indústria do offshore brasileiro são bilionários”, diz o diretor do SENAI do Rio Grande do Norte e do ISI-ER, Rodrigo Mello. 

 

“E está na hora de termos dados com maior confiabilidade, para que a tomada de decisão desse investimento ocorra nas melhores áreas”, acrescenta.

 

Segundo o executivo, esse é um dos avanços que o mapeamento na Margem Equatorial brasileira traz para o setor. 

 

“Os resultados dessas medições oferecerão dados primários para a validação de simulações, com a redução da incerteza do potencial energético da Margem Equatorial. Isso fará com que esses investimentos sejam otimizados. Ter esses dados é uma questão de fortalecimento do ambiente de atração de negócio para essa nova atividade industrial que será muito importante para o Brasil”, observa.

 

Os projetos que já chegaram à mesa do Ibama, explica Mello, são elaborados a partir de dados secundários, de modelagem, e correspondem a um planejamento inicial dos complexos eólicos. “Esse estudo oferecerá uma contribuição significativa para o desenvolvimento desses projetos e desta nova fronteira no Brasil”. 

 

A ideia do mapeamento da Margem Equatorial Brasileira surgiu em 2020, após 13 dos 16 municípios do Amapá sofrerem um apagão de 22 dias, no que foi considerado o maior blecaute da história do país. 

 

Como fruto de articulações dos senadores da República Davi Alcolumbre (Amapá), Marcio Bittar (Acre), e do, à época senador do Rio Grande do Norte, e, atualmente, presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, um convênio para o desenvolvimento da iniciativa foi firmado entre o MCTI e o ISI-ER, responsável pela execução do trabalho.

 

Texto: Renata Moura