O Amapá tem ‘potencial gigantesco’ para geração de energia solar e perspectivas de produzir SAF (combustível sustentável de aviação) a partir de uma de suas principais cadeias produtivas: a do açaí.
As estimativas foram apresentadas nesta segunda-feira (26) em Santana (AP) durante o evento que marcou a entrega do primeiro Atlas Solar do estado e o lançamento da pedra fundamental do “Instituto Margem Equatorial” – um centro avançado de tecnologia estratégica que vai desenvolver pesquisas, capacitação e outras soluções voltadas à transição energética e à biodiversidade da Amazônia.
Os projetos estão sendo conduzidos pelo Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), por meio de convênio com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e investimentos frutos de emendas parlamentares do senador da República Davi Alcolumbre e do ex-senador, Jean Paul Prates, com vistas ao desenvolvimento da Margem Equatorial brasileira.
A região corresponde a 38,6% do litoral do país e, inclui, além do Amapá, o Rio Grande do Norte, líder nacional em geração eólica em terra e uma das áreas identificadas como mais promissoras para futuros complexos eólicos offshore (no mar), o Ceará, o Piauí, o Maranhão e o Pará.
Potencial
O Atlas Solar apresentado nesta segunda-feira é a primeira entrega de uma série prevista como fruto dessa articulação.
Os dados mostram uma capacidade instalável da ordem de 56 Gigawatts (GW), no Amapá, número que supera toda a capacidade existente das fontes eólica e solar centralizada juntas no Brasil.
A produção anual de energia com o uso de menos de 1% do território do estado chegaria a 87 GWh e seria capaz de ultrapassar em mais de duas vezes o consumo energético total registrado na região Norte.
Em um cenário de expansão da geração solar, os estudos sugerem um potencial de 426 TWh (terawatts-hora), aproximadamente 3 vezes a demanda de energia elétrica de São Paulo, a maior cidade do Brasil.
O diretor do SENAI-RN e do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis, Rodrigo Mello, lembrou durante o evento que o projeto de mapeamento do potencial da Margem Equatorial brasileira surgiu em um contexto de busca de soluções para a instabilidade energética que o Amapá enfrenta e para que eventos como o que foi considerado o maior blecaute da história do país – registrado no estado em 2020 – não se repitam.
Hoje, em um cenário em que produção, transmissão e distribuição de energia no âmbito local ainda são apontados como desafiadores e as faltas de energia são constantes, o Amapá possui capacidade instalada de 1,0 GW, o que equivale a 0,49% da existente no Brasil.
Da capacidade total do estado, 96,74% são oriundos de hidrelétricas e pequenas centrais hidroelétricas, atualmente. Outros 2,85% são produzidos em termelétricas e apenas 0,41% são provenientes de usinas fotovoltaicas – as que geram energia solar.
“Mas eu não tenho a menor dúvida de que sairemos de uma situação de ‘estado apagado’ para a condição de estado exportador de energia a partir do sol, assim como aconteceu com o Rio Grande do Norte nos últimos anos com a energia eólica”, ressaltou Rodrigo Mello, citando o Atlas como “ferramenta fundamental” nesse processo.
“O capital”, disse ele, “para chegar e fazer investimentos, precisa ter informações e este Atlas pretende compor o ecossistema de informações do Amapá”.
O senador Davi Alcolumbre destacou que a energia solar é uma das fontes que mais crescem no Brasil e uma importante alternativa energética para se levar energia do Norte ao Sul, do Leste ao Oeste do Amapá. “O Atlas demonstra que o Estado tem um potencial de geração de energia solar abundante e contribuirá com esse desenvolvimento com direcionamento das melhores áreas para novos investimentos”, analisa.
Investimentos
Hoje, o Amapá já tem geração renovável, já é um estado de energia limpa, complementou o ex-senador e também articulador do projeto, Jean Paul Prates, ressaltando a importância de diversificação da matriz do estado para a segurança energética.
“Dependendo de uma fonte só o estado pode viver situações de crise”, disse ele, frisando que o Atlas Solar está longe de ser “apenas um livro”.
“Isso está tudo georreferenciado, está pronto para que as empresas comecem a procurar áreas e fazer projetos. Nós, com esse trabalho, colocamos o Amapá no mapa de investimentos solares do mundo”.
A equipe responsável pelo levantamento e análise de dados foi composta por aproximadamente 30 pesquisadores e técnicos do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis.
Também presente no evento, o ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, ressaltou a importância da informação científica nesse contexto e que o Brasil “tem que ter essa pegada cada vez mais, de investir e acreditar na ciência, na informação produzida tecnicamente”.
Cinco estações solarimétricas, compostas por sensores de radiação solar, pressão atmosférica, precipitação, temperatura e umidade, além de sensores de velocidade e direção do vento, foram utilizadas no estado para a realização dos estudos.
As estações foram instaladas pelo ISI-ER em áreas disponibilizadas pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amapá (IFAP), pelo SESI/SENAI – CFP Santana, pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e pelo SESC-Laranjal. Para a execução do trabalho, o Instituto SENAI também contou com a colaboração de pesquisadores do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá.
“Nós estamos trazendo dados inéditos para o Brasil. Já se tinha um Atlas solar nacional, com o mapeamento da região (do Amapá), mas não havia estações tão precisas para a validação como essas que tivemos”, observa a pesquisadora líder do Laboratório de Energia Solar do ISI-ER, Samira Azevedo.
“E esse é um grande diferencial do Atlas que apresentamos. Além de fazermos uma modelagem completamente parametrizada para aquela região, tivemos as estações instaladas com alto padrão de qualidade de dados para validar essas medições, que comprovam o alto potencial do local”, acrescenta.”O Amapá vai ser um grande ator nesse cenário de produção de energia”.
Texto: Renata Moura
Fotos: Divulgação ISI-ER