Brasileiros defendem educação profissional, mas acesso é para poucos, aponta pesquisa

5/05/2023   11h15

 

Os brasileiros não enxergam mais o ensino técnico e profissional como uma opção menos prestigiada em relação ao ensino superior. A população acredita que essa formação prepara para o mercado de trabalho, tem boa aceitação pelas empresas, bons salários e é financeiramente acessível.

 

Apesar da avaliação positiva e do crescente interesse, o país está distante de cumprir a meta de expansão da oferta prevista no Plano Nacional de Educação (PNE). O Brasil deveria alcançar 4,8 milhões de matrículas até 2024, contudo, o ano de 2022 fechou com 2,15 milhões de matrículas, sendo 1,24 milhão na rede pública.

 

Pesquisa do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e do Serviço Social da Indústria (SESI) com 2.007 brasileiros, mostra que a educação profissional – ensino profissionalizante, como é popularmente conhecido – é a modalidade mais bem avaliada no sistema educacional, liderando a lista de pontos fortes da rede pública no Brasil.

 

Enquanto a Alfabetização e o Ensino Médio são vistos como ruins ou péssimos por 20% e 14% da população, respectivamente, e como bons ou ótimos por 47% e 45%; para o ensino técnico, os índices são 8% e 58%. Além disso, nove em cada 10 brasileiros recomendam a formação profissional. A amostra é representativa da população com mais de 16 anos e a margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos.

 


“As pessoas têm que seguir suas vocações, mas o que acontece com mais de 75% dos jovens que não vão para o ensino superior? A pesquisa comprova que o brasileiro está reconhecendo que a formação de nível técnico abre portas para o mercado de trabalho e que temos uma educação profissional de 1º mundo. O Brasil tem redes, como as dos serviços nacionais de aprendizagem e dos institutos federais, com alcance, infraestrutura e corpo técnico de excelência”, avalia o diretor de Operações do SENAI, Gustavo Leal.


 

Essa é a segunda etapa da pesquisa, que já teve divulgadas as percepções acerca do novo ensino médio. A terceira parte do material vai trazer o perfil de quem estuda, os motivos para a evasão escolar e as prioridades para os brasileiros nas políticas educacionais.

 

 

 

 

 

País precisa formar 302 mil técnicos em quatro anos

A Educação Profissional e Tecnológica (EPT) é uma modalidade da Educação Nacional com um objetivo bem claro: preparar o aluno para o exercício de uma profissão. Para desenvolver em jovens e adultos as competências exigidas pelo mundo do trabalho, ela aposta em atividades práticas e conteúdo alinhado com a realidade produtiva e as necessidades das empresas.

 

Os cursos técnicos, cuja duração média é de um ano e meio a dois anos, podem ser cursados por quem está no ensino médio ou já o concluiu.

 


“Primeiro, é importante entender como a população enxerga a formação e quais são as barreiras para ampliar a oferta, porque a demanda do setor produtivo por esse tipo de profissional é crescente. Segundo, é preciso acompanhar sistematicamente se esse aluno está sendo absorvido pelo mercado de trabalho ou não. Quando falamos de educação profissional, empregabilidade é a palavra-chave”, alerta Leal.


 

Segundo o Mapa do Trabalho Industrial 2022-2025, em quatro anos, serão abertas 136 mil novas vagas formais em ocupações industriais de nível técnico – um crescimento de 6,3%. Nesse período, o país vai precisar formar 302 mil técnicos e requalificar cerca de 1,4 milhão de profissionais que já atuam como técnicos, mas que precisam se atualizar. Ainda segundo projeção do Observatório Nacional da Indústria, hub de dados do Sistema Indústria, as vagas nesse nível de formação vão somar 2,2 milhões postos de trabalho, que representam cerca de 18,4% do total do emprego industrial no país.

 

Três em cada quatro ex-alunos do técnico estão empregados

A instituição de ensino que capacita profissionais para a indústria é o SENAI. A pesquisa de egressos, realizada anualmente pela rede, comprova a importância da aproximação com o setor na definição dos cursos e na incorporação das tecnologias: 76% dos ex-alunos de cursos técnicos estão empregados em até um ano de conclusão, 74% estão no mercado formal e 51,4% trabalham na área em que se formaram. Nos cursos de graduação tecnológica, ou tecnólogo, 9 de cada 10 (92,8%) ex-alunos estão empregados e 82,7% estão no mercado formal.

 

Foi o que aconteceu com Igor Barreto. Incentivado pelo pai, que estudou no SENAI e trabalhou na indústria têxtil por muitos anos, o jovem começou o curso técnico em Eletroeletrônica aos 16 anos, durante o ensino médio. Ele se deslocava de Guarulhos para estudar na escola Roberto Simonsen no bairro do Brás.

 

“Assim que terminei o técnico, um amigo que fez o TCC comigo e trabalhava na KHS, uma multinacional alemã, me indicou para uma vaga de aprendizagem. Era meio período na empresa e meio período na escola, no técnico em Mecatrônica. Consegui a vaga e me adaptei rápido por conta do primeiro curso no SENAI. E aí no final do contrato da aprendizagem, eles me efetivaram como montador elétrico”, conta Igor.

 

Com 20 anos e um emprego com carteira assinada, ele tem no currículo duas formações de nível técnico no currículo e a experiência como jovem aprendiz. E garante que não vai parar. À noite, ele cursa o tecnólogo em Eletrônica industrial na Faculdade de Tecnologia de São Paulo e já pensa em uma pós-graduação na área de negócios.

 

Perfil de quem afirma que cursou ensino técnico varia por região e renda

A oportunidade de iniciar a trajetória no mercado de trabalho pela educação profissional ainda não é para todos. Entre os entrevistados da pesquisa, 32% afirmam que fazem ou já fizeram ensino técnico, sendo que há diferenças consideráveis por perfil:

  •  27% entre as mulheres e 36% entre homens;
  •  20% ganham até 1 salário-mínimo, 29% de 1 até 2 SM, 39% de 2 a 5 SM, 48% de mais de 5 SM;
  •  27% na região Norte/Centro-Oeste, 25% no Nordeste, 37% no Sudeste e 35% no Sul;
  •  29% na capital, 38% na região metropolitana e 31% no interior.

Entre quem frequenta ou frequentou, 38% afirmam que foi em instituições dos serviços sociais autônomos – o Sistema S – (entre as mulheres, o índice é de 30%; e, entre os homens, 44%); 34% em instituição particular e 28% em instituição pública.