Os investimentos da Noruega em energias renováveis se multiplicaram no Brasil, nos últimos anos, e o Rio Grande do Norte é apontado pelo país europeu como importante ator para a continuidade desse crescimento.
“O potencial do estado é imenso e estamos procurando oportunidades para empresas norueguesas”, disse a Cônsul Geral da Noruega, Mette Tangen, nesta sexta-feira (10), em Natal, onde participou do Workshop de Inovação em Renováveis – RN e Noruega.
O evento foi promovido no Hub de Inovação e Tecnologia (HIT) do SENAI-RN, em Natal, com organização da Innovation Norway, a agência de fomento comercial e à inovação do governo norueguês, com apoio do governo do Rio Grande do Norte, da Federação das Indústrias do estado (FIERN) e do SENAI. A programação foi financiada pela Embaixada da Noruega.
Em discurso, na abertura, o presidente da FIERN e do Conselho Regional do SENAI-RN, Roberto Serquiz, destacou que o Rio Grande do Norte está comprometido com a transição energética e foi um dos estados que mais evoluíram, no Brasil, na geração de energia nos últimos anos.
“Temos, no estado, mais de 250 parques eólicos, uma geração de energia superior a 8 Gigawatts (a maior do Brasil, com participação de 30%) e 41 cidades com empreendimentos do tipo, entre parques instalados e em construção, além de projetos de energia solar. Esse é um patrimônio natural privilegiado, com os melhores ventos, um recurso solar diferenciado e uma grande reserva petrolífera”, disse ele.
A programação reuniu especialistas de universidades norueguesas, do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico (Sedec) e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) para discutir o desenvolvimento de pesquisas, a inovação e necessidades de formação profissional nos dois mercados, especialmente na mais nova fronteira de investimentos – a energia eólica offshore – e na geração solar fotovoltaica.
Maior produtor brasileiro de energia eólica e 5º principal no ranking da geração solar centralizada – que inclui projetos acima de 5 Megawatts (MW), como usinas de grande porte, o Rio Grande do Norte foi citado pela delegação oficial norueguesa como “polo renovável do Brasil”. A Noruega é um dos países europeus com investimentos na atividade do estado. Globalmente, também é reconhecida como sede do maior parque eólico offshore flutuante do mundo, cuja produção abastecerá, de forma inédita, campos de petróleo e gás no país, reduzindo emissões de gases de efeito estufa.
Parcerias
Possibilidades de ampliação de investimentos e a potencial construção de novas parcerias na área foram abordadas no evento. “Estes são tempos incríveis para visitar o Nordeste brasileiro, sobretudo o Rio Grande do Norte”, disse a Cônsul Geral da Noruega, Mette Tangen, ressaltando que “o potencial do estado vai além das fontes tradicionais”.
“Também há” no estado, disse ela, “boas oportunidades para o desenvolvimento de energia eólica offshore e de hidrogênio verde”. “Essas são áreas prioritárias para a Noruega, pois acreditamos que serão essenciais para alcançar as metas no Acordo de Paris (tratado internacional sobre mudanças climáticas, por meio do qual os países se comprometem com ações para reduzir emissões de gases do efeito estufa)”.
O Brasil, continuou ela, está emergindo como potência de sustentabilidade e a região Nordeste se destaca como força motriz nesse movimento.
O presidente da FIERN apresentou o Rio Grande do Norte nesse contexto não apenas como rico em recursos naturais, mas também como referência em pesquisa e qualificação profissional para energias renováveis, por meio do SENAI – descrito por ele como “um mundo de inovação e tecnologia”.
Desafios enfrentados pelo Brasil e a Noruega na atividade foram apontados no discurso que fez como “semelhantes” e ganchos para que colaborações na área possam ser ampliadas. “Juntos, em cooperação, podemos nos fortalecer para encontrar melhores soluções”, ressaltou, reiterando a relevância do intercâmbio de informações e conhecimento na área.
O diretor do SENAI-RN e do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), Rodrigo Mello, também chamou a atenção para caminhos possíveis de cooperação e para a contribuição que não só o RN, mas o Brasil, a América Latina e o Caribe têm dado – e podem ampliar ainda mais – para o ambiente internacional de consumo de energia, a partir, por exemplo, de combustíveis avançados e hidrogênio.
Ele pontuou, ainda, a “perspectiva e necessidade de ampliação de desempenho de módulos fotovoltaicos” – os sistemas que geram energia solar – para aumentar a eficiência e a competitividade na área.
Uma das frentes de trabalho sobre as quais pesquisadores do ISI-ER estão debruçados o campo também foi apontado pelo diretor do departamento de energia da Universidade de Oslo, Vebjørn Bakken como chave em pesquisas que a Noruega vem desenvolvendo. “Há grandes oportunidades de colaboração entre o Brasil e a Noruega”, disse ele, durante apresentação.
Mello, diretor do SENAI-RN e do ISI-ER, pôs a instituição à disposição, no Rio Grande do Norte. “Este centro está aberto para ser uma porta para a Noruega, para quem tem tecnologia de ponta e pretende fazer cooperação tanto na parte de desenvolvimento humano, de profissionais, quanto na área de desenvolvimento de soluções tecnológicas. Vamos tentar iniciar esse processo”.
Energia solar é principal aposta atual dos investidores
O Rio Grande do Norte tem R$ 31,2 bilhões em investimentos previstos no setor elétrico até 2025, considerando somente os setores de energia eólica e solar.
A indústria de energia solar é, atualmente, o principal alvo dos recursos, segundo o coordenador de Desenvolvimento Energético da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico, Hugo Fonseca.
A fatia da atividade no total de desembolsos estimados para os próximos anos chega a 70%, o que corresponde a nada menos que R$ 21,8 bilhões.
É justamente nessa área que os noruegueses também têm apostado, de início. Uma joint venture formada pelas empresas Scatec, Hydro Rein e Equinor, oriundas do país europeu, resultou no projeto solar Mendubim, em Assú, município potiguar a 207Km de Natal.
O “Relatório de Investimentos: Criação de Valor Norueguês no Brasil 2021-2022”, lançado este ano e compartilhado no Workshop, aponta o empreendimento como um dos maiores projetos de energia solar atualmente no Brasil, com 531 Megawatts (MW) instalados.
O investimento soma US$ 430 milhões e a estimativa é que a usina gere energia suficiente para abastecer 620 mil residências no Brasil.
“Hoje, nós produzimos em fonte eólica cinco vezes o consumo do Rio Grande do Norte, além de termos várias outras fontes, como a biomassa e a solar instaladas”, disse o diretor do SENAI-RN e do ISI-ER, Rodrigo Mello, sobre a dimensão do setor no Rio Grande do Norte, ressaltando que o estado passou da condição de mero consumidor de energia para grande produtor e contribuinte para a rede nacional, nos últimos 20 anos.
Renováveis
De forma global, os investimentos noruegueses alcançaram US$ 7,3 bilhões no Brasil, no biênio 2021-2022 e a fatia das energias renováveis nesse bolo disparou para 16% no período, um salto de 8 vezes em relação à registrada nos dois anos anteriores, de 2%.
“Essa é uma área que a Noruega está olhando bastante, da transição energética, das energias renováveis, com as empresas olhando para descarbonizar as operações, muitas delas olhando o desenvolvimento de novas tecnologias, como eólica offshore e hidrogênio, e o Rio Grande do Norte e o Nordeste são potências nessas áreas”, disse o assessor econômico e político do Consulado Geral da Noruega, Gabriel Francisco, frisando a importância de parcerias com o governo do RN, com a FIERN, e o SENAI nesse contexto.
O Workshop contou com a participação de pesquisadores e de outros especialistas no setor, entre eles Atle Blomgren, pesquisador senior do Norce, centro de pesquisa da Noruega, que falou sobre desafios para energia eólica offshore e a educação profissional para a atividade.
Durante o evento, Bruno Leinio, representante da agência de fomento comercial e á inovação do governo da Noruega, apresentou, ainda, detalhes da 4ª chamada pública conjunta aberta pelo Conselho Norueguês de Pesquisa (RCN) e a Financiadora de Estudos e Projetos-FINEP, agência pública federal do Brasil vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
O edital tem previsão de lançamento ainda este ano com o objetivo de fortalecer habilidades e competências em inovação em ambos os países, por meio do apoio a projetos que contemplem atividades de desenvolvimento de tecnologias e dos recursos humanos necessários para a promoção de tecnologias a serem aplicadas nos setores de petróleo e de energias renováveis.
Também participaram do Workshop a primeira secretária da Embaixada da Noruega em Brasília, Tonje Sødal, a diretora do Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER), do SENAI-RN, Amora Vieira, e representantes de empresas como Maersk Training e Barlovento.
Texto e fotos: Renata Moura