“Iremos incluir na pauta de exportações o produto mais estratégico para a humanidade atualmente, a energia”, diz diretor do SENAI-RN

20/05/2022   17h08

 

“Nós iremos incluir na pauta de exportações brasileiras o produto mais estratégico para a humanidade atualmente, que é a energia”, ressaltou o diretor regional do SENAI-RN, do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) e do Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER), Rodrigo Mello, no 2º Congresso da Rede Brasileira de Bioquerosene e Hidrocarbonetos Sustentáveis para Aviação (RBQAV), encerrado esta semana em Natal. O hidrogênio a partir de fontes renováveis de energia – o chamado combustível do futuro – foi apontado por ele como um caminho estratégico do Brasil para transportar energia para outros países.

 

O assunto foi abordado na palestra “Hidrogênio – Construindo um Novo Mundo”, moderada pelo coordenador de Inovação da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e do Trabalho do Estado do Ceará, Expedito Parente Júnior. Tales Gottlieb Jahn, gestor do Centro de Energias Renováveis do Parque Tecnológico Itaipu Brasil (PTI-BR), também participou da Mesa Redonda.

 

As principais rotas de produção de hidrogênio sustentável, os desafios e as oportunidades que existem no Brasil para alavancar essa indústria foram os pontos centrais em discussão.

 

Durante a apresentação, Mello disse enxergar “duas gigantescas oportunidades para o Brasil” viabilizar a atividade: a produção de hidrogênio sustentável a partir de biomassa e a produção a partir da energia eólica no offshore – ou seja, da energia gerada com parques eólicos implantados no mar, uma frente de investimentos que está em processo de regulamentação e à espera os primeiros licenciamentos ambientais no país.

 

Apenas na faixa do litoral que engloba o Rio Grande do Norte e o leste do Ceará, o potencial de produção eólica, medido, é estimado em 140 Gigawatts (GW) de energia offshore, “o que representa 10 Itaipus de energia”, observou ele, se referindo à maior usina hidrelétrica do Brasil e a uma das maiores do mundo. Nacionalmente, o potencial também é considerado “gigante”.

 

“Na linha de hidrogênio verde a partir de eletrólise (um dos processos possíveis de produção), o offshore do Brasil tem um recurso eólico estimado pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética) em 700 GW. É um potencial de geração de 4 vezes toda a capacidade instalada que temos no país (considerando todas as fontes de energia)”, acrescentou o diretor do SENAI, reiterando que essa oferta será potencialmente destinada à exportação.

 

“Fica óbvio que essa energia não se faz necessária para o consumo doméstico. O mundo está com problema de energia. Precisa diversificar a sua matriz e nós sabemos que uma vez decidido que precisamos reduzir o consumo da energia fóssil, precisaremos de uma fonte transportável”.

 

Assim como a energia eólica offshore, a estruturação da cadeia produtiva do hidrogênio verde está em desenvolvimento no Brasil e estados como o Rio Grande do Norte, líder nacional em geração eólica em terra e uma das zonas apontadas como mais promissoras para a geração no mar – esperam encontrar no setor novas possibilidades de investimentos e empregos.

 

O produto – que vive um momento de boom e de alta demanda mundial – traz, de acordo com Mello, novas perspectivas no comércio internacional para o país, como meio de armazenagem de energia, possibilitando o transporte do insumo para além das fronteiras brasileiras.

 

“Nós iremos incluir, na pauta de exportação brasileira, que historicamente é composta de commodities, de produtos de baixo valor agregado, certamente o produto mais estratégico para a humanidade no momento, que é a energia”, reforçou ele durante a palestra.

 

 

O hidrogênio é um gás chamado de hidrogênio verde quando a eletricidade usada no processo químico para obtê-lo – chamado de eletrólise – vem de fontes renováveis, como hidrelétrica, eólica e solar.

 

As rotas de produção também foram apresentadas por Mello durante o evento, com ênfase em duas principais: o hidrogênio verde a partir de eletrólise, com uso de energias renováveis, e o hidrogênio a partir de matérias-primas orgânicas, como o bioetanol e o glicerol provenientes da produção do biodiesel.

 

Ambas são alternativas à produção a partir de gás metano, mais comum hoje e mais poluente.

 

Educação

O diretor também detalhou uma parceria recém-firmada entre o SENAI e a entidade alemã de cooperação GIZ para formação dos profissionais que irão atuar na cadeia produtiva do hidrogênio verde no Brasil.

 

Por meio da parceria, serão investidos 2,6 milhões de euros (aproximadamente R$ 14 milhões) até 2023 na adaptação de infraestrutura e compra de equipamentos para seis centros de formação de profissionais para a cadeia de hidrogênio verde no Brasil.

 

Serão um centro de excelência em Natal (RN) – no CTGAS-ER, que também coordenará nacionalmente a iniciativa – e mais cinco centros regionais de treinamento no Ceará, Bahia, Paraná, São Paulo e Santa Catarina.

 

“O SENAI está montando soluções para desenvolvimento de pessoas nessa área e temos a missão de até dezembro de 2023 estar com essa resposta, e com alguns vários cursos para formar desde o operador de plataforma, o pessoal de automação, a inteligência e a gestão até pessoal em pós-graduações voltadas a hidrogênio”, disse ele, ressaltando que o CTGAS-ER, do SENAI, realizou trabalhos semelhantes no passado para as cadeias produtivas do gás e da energia eólica – áreas em que é referência em educação profissional no Brasil.

 

“Não havia profissionais focados no gás para uso na indústria ou uso veicular. A mesma coisa aconteceu na cadeia das energias renováveis e o desafio agora se apresenta para a cadeia do hidrogênio, em que vamos repetir o sucesso”, frisou.

 

Investimentos

Expedito Parente Júnior, que moderou a Mesa Redonda no evento, observou que nos últimos três anos, mais de 30 países firmaram estratégias de desenvolvimento econômico voltadas ao hidrogênio verde.

 

A partir de dados de consultorias, ele estimou que “até 2040 serão quase 200 bilhões de dólares em investimentos no Brasil, voltados à produção de hidrogênio verde e derivados.

 

“É um volume de investimentos totalmente sem precedentes na indústria de energia e o Nordeste brasileiro desponta como local que tem condições de ter o hidrogênio verde mais barato do mundo”, acrescentou.

 

Rodrigo Mello, do SENAI, lembrou, porém, que um dos desafios para o produto deslanchar no país é justamente o preço – mas as perspectivas relacionadas a isso são favoráveis, destacou ainda.

 

“Eu não tenho a menor dúvida de que com a evolução da tecnologia e a perspectiva de escalar equipamentos, e o parque industrial, nós iremos consumir biocombustíveis, combustíveis sintéticos e hidrogênio a um preço muito menor do que temos ao trazer combustível fóssil do outro lado do mundo”.