RN deve ter aumento de produtividade com mudança no mercado de petróleo

1/09/2020   13h48

O mercado de petróleo no Rio Grande do Norte tem a perspectiva de aumento de produtividade com a entrada de empresas independentes para explorar e produzir os campos onshore. Na última semana, a Petrobras anunciou a venda de cessão dos direitos de exploração, desenvolvimento e produção de óleo e gás natural do conjunto de 26 concessões de campos de produção terrestres e de águas rasas, com instalações integradas, localizadas na Bacia Potiguar.

 

O Rio Grande do Norte tem a maior produção onshore do Brasil. A produção terrestre que já chegou a atingir 117 mil barris/dia, nos últimos anos, declinou para 25 mil barris/dia. O setor já respondeu por 45% do PIB industrial, vem em queda desde 2010, com efeito direto na economia com a queda de produção e, consequentemente, de receita do Estado.

 

A indústria do petróleo norte-rio-grandense lidera o movimento de restruturação do onshore no país, com a transferência da exploração de campos maduros para a iniciativa privada. No ano passado, frente à decisão de desinvestimento da Petrobras e venda de ativos, a FIERN buscou a articulação com empresários e rede de fornecedores locais, entidades representativas, órgãos reguladores e o Ministério de Minas e Energia para tratar a restruturação do setor no estado, que responde por 40% do PIB industrial do RN.

 

Márcio Félix, vice-presidente executivo da ONIP Foto: Divulgação

Márcio Félix, vice-presidente executivo da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (ONIP), acredita que o Rio Grande do Norte saiu na frente e caminha a passos largos na retomada das operações de exploração e produção de petróleo terrestre, servindo de exemplo para outros estados.

 

Para ele, a venda dos ativos de campos terrestres e em águas rasas representa o fim de um período de presença da estatal no onshore brasileiro e o início de uma nova fase do setor com a participação da indústria privada e diversidade de novos agentes operando na exploração e produção desses campos, com potencial de melhores resultados.

 

“Haverá um aumento de produção de também de produtividade, com mais resultados alcançados com menos recursos. Os ativos existentes serão melhor cuidados, as empresas privadas farão investimentos e vão buscar o melhor retorno, além disso o efeito local é bem mais rápido na economia, o dinheiro irá circular localmente, se a produção aumenta, o royalties é maior. É um novo ciclo que se abre, com mais oportunidades para o Estado, de atrair novas empresas e investidores locais, que estarão com a sua estrutura mais próximas da sociedade”, observa Márcio Félix.

 

O vice-presidente da ONIP defende ser mais eficiente a criação de um grande fórum de discussão para planejar um ambiente favorável à entrada de novas empresas, de menor porte e até mesmo locais, na produção do petróleo em terra no Estado, do que empreender esforços para reverter a decisão da companhia. A cadeia produtiva junto aos governos do Estado e municípios, pondera o executivo, devem avaliar os mecanismos de licenciamento ambiental, licenciamento social, planejar a contratação de pessoas, mapear os novos atores, entre outros pontos.

 

“Respeitamos a posição dos estados e governantes, mas as ações da Petrobras estão sendo tomadas dentro do modelo de governança da companhia que dificilmente será alterada, pelo menos nos próximos três nos. Ou seja, a venda dos ativos vai acontecer. E o diálogo deve ser aberto, planejado, de forma a organizar a saída da Petrobras e maximizar os ganhos que virão com a entrada da iniciativa privada. Um fórum abrangente e atuante se faz cada vez mais necessário”, frisa Félix. Ele lembra que entre as áreas postas à venda estão alguns dos principais ativos em terra, como o Canto do Amaro, além da estrutura da Refinaria Clara Camarão.

 

Para o presidente da PetroReconcavo e da Potiguar E&P, Marcelo Magalhães, o mercado onshore do Rio Grande do Norte vive um momento de retomada de crescimento, que ficou evidenciado no Mossoró Oil & Gas Expo, realizado ano passado, com a participação de diversos players do segmento.

 

A PetroReconcavo, através de sua subsidiária Potiguar E&P, adquiriu a participação da Petrobras nos campos do Polo Riacho da Forquilha. Essa foi a primeira transação envolvendo campos terrestres em bacias maduras do plano de desinvestimento da Petrobras. A empresa anunciou investimento de US$ 150 milhões em cinco anos. A empresa está, há nove meses, no Rio Grande do Norte. “Estamos extremamente satisfeitos com as nossas operações no Rio Grande do Norte, encontramos mão de obra de alta qualidade, pessoal muito capacitado, trouxemos de volta ao estado três dos nossos engenheiros, além disso contamos com o apoio do governo, da FIERN e Sebrae. O onshore brasileiro vive um novo momento e o Rio Grande do Norte tem forte participação nisso”, afirma o CEO.

 

Marcelo Magalhães, CEO da Petroreconcavo Foto: Divulgação

 

Em março, a Potiguar E&P conseguiu elevar a produção dos campos operados no RN em 30% na comparação com a média diária operada pela Petrobras. Com a pandemia, o ritmo de investimento desacelerou e os números da produção também recuaram e, no último mês, voltaram a crescer. Segundo ele, o incremento atual é na ordem de 23% em relação ao que era produzido pela estatal. Os números resultam da otimização dos poços com a revitalização de campos maduros.

 

“Começamos com o básico, a otimização dos poços existentes. Neste período mobilizamos quatro sondas, a Petrobras não tinha nenhuma na região. Com a pandemia diminuímos este número, a empresa também adotou todos os protocolos de biossegurança e realizou testagem para Covid-19 entre os funcionários, mas voltamos a repor e estamos com três sondas para voltar ao ritmo de produção”, pontuou.

 

Até o final do ano, espera inicia a perfuração de poços. A empresa estima dobrar a produção dos campos operados dos atuais para 3,620 mil barris por dia para 8 mil barris por dia em 3 a 5 anos.

 

A Bacia Potiguar é madura, com produção em declínio. A venda de ativos, segundo o empresário, é uma tentativa de aumentar a vida útil dos campos maduros, que é determinada pelo fator recuperação. “Hoje, o Brasil, tem o mais baixo fator de recuperação de campos maduros em relação a outros países devido à falta de investimentos da Petrobras nos últimos anos. Mas esse subinvestimento pode ser revertido com a entrada das empresas independentes no mercado. Ao adquirir os campos, as empresas investem e querem recuperar o que foi investido”, avalia Magalhães.

 

A vantagem dessas empresas em relação a estatal é ter uma estrutura de custos mais adequada para a produção onshore, uma vez que a Petrobras está voltada a exploração e produção em águas profundas, do Pré-sal. O empresário, no entanto, defende a permanência da Petrobras na região Nordeste mesmo com a venda dos ativos, mas com outras áreas de atuação. Segundo ele, a estatal deve ficar na região e atuar nas atividades de suporte a produção de petróleo e gás, além de trabalhar na prospecção de energias renováveis e alternativas.