Com eólicas offshore e H2 verde, Brasil conseguiria suprir 40% da energia importada pela Europa, diz ISI-ER

30/06/2022   16h42

Potencial de exportações e questões como políticas para o H2 no Brasil foram apresentados pelo pesquisador Juan Ruiz

 

O Brasil conseguiria suprir aproximadamente 40% da demanda de energia elétrica da Europa – equivalente à fatia fornecida atualmente pela Rússia – caso 100% da produção esperada nos futuros parques eólicos offshore (no mar) seja destinada à exportação, tendo o chamado “hidrogênio verde” (H2 Verde) como meio de armazenamento.

 

A projeção foi apresentada, na quarta-feira (29), pelo pesquisador líder do Laboratório de Sustentabilidade do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), Juan Ruiz, durante o painel “Energia eólica e hidrogênio verde – uma associação viável”, no Fórum Nacional Eólico – Carta dos Ventos.

 

O evento foi realizado com edição online este ano, promovida pelo Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energias (Cerne) e a empresa Viex-Américas (Clique aqui para assistir).

 

Durante a apresentação, o pesquisador do ISI-ER explicou que, com o potencial de produção offshore previsto pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o Brasil teria um excedente de 5.040 Terawatt-hora (TWh) de energia para exportação, o que representaria 1.764 TWh a serem aproveitados no destino final – o mercado europeu, por exemplo.

 

Para efeito de comparação, a importação de energia da Europa em 2020 foi estimada em 4 mil Terawatt-hora. “Desses 4 mil TWh, 38% foram fornecidos pela Rússia, que hoje está em conflito (com a Ucrânia), e é uma energia cinza”, disse Ruiz, se referindo à oferta do insumo por parte da Rússia baseada em combustíveis fósseis, ao contrário da que seria comercializada pelo Brasil, com origem em energias como a eólica.

 

“Ou seja, toda essa quantidade de offshore no Brasil poderia atender a essa fatia necessária da demanda de energia pela Europa”, reforçou o pesquisador.

 

O cenário sugerido por ele leva em conta projeções da EPE para demanda de energia elétrica no Brasil até 2026, o potencial offshore estimado nacionalmente em 700 Gigawatts (GW) e perdas esperadas de energia em etapas da produção e exportação, como a eletrólise – o processo químico utilizado para obtenção do hidrogênio verde – compressão e transporte até os mercados de destino.

 

A indústria do chamado hidrogênio verde, produzido a partir de fontes renováveis e possível meio de armazenamento de energias limpas para exportação, está em processo de estruturação nacionalmente, e à espera de regulamentação.

 

No contexto da transição energética, esse hidrogênio também desponta como possibilidade de insumo para uso em processos industriais e para utilização como combustível em substituição aos tradicionalmente utilizados, considerados poluentes.

 

OPORTUNIDADES
As oportunidades com a nova indústria são enxergadas nacionalmente e especialmente para estados como o Rio Grande do Norte, que já lidera a geração de energia eólica em terra e é apontado como uma das zonas mais promissoras para investimentos em parques eólicos no mar. Oito projetos previstos para o estado estão atualmente esperando licenças ambientais.

 

Discussão sobre o Hidrogênio Verde foi promovida durante painel no Fórum Nacional Eólico – Carta dos Ventos

 

Apesar de ser uma indústria incipiente no Brasil, a produção de hidrogênio verde já possui alguns eventos e marcos, que mostram as discussões sobre esse mercado emergente no país, entre eles a proposição de diretrizes, pelo Ministério de Minas e Energia (MME), para o Programa Nacional de Hidrogênio (PNH2), como mostrou – no mesmo painel do pesquisador do ISI – a gerente ambiental da Arcadis Urbanista, Fernanda Laham.

 

Em relação aos projetos de hidrogênio verde em desenvolvimento no Brasil, ela destacou que o cenário atual conta com Memorandos de Entendimentos (MoUs) assinados em diversos estados brasileiros, dentre eles o Rio Grande do Norte. Além de uma usina piloto de H2V no Ceará, com início da operação previsto para dezembro de 2022.

O Emerging Business Models Manager da EDF Renewables, Sylvain Jouhanneau, destacou, também no evento, que “o Brasil está no momento e no lugar certo para se preparar e se posicionar como uma potência mundial de exportação de H2V (e seus derivados), acelerando a transição energética local e contribuindo como um dos líderes da transição energética global”.

 

Em relação ao Rio Grande do Norte, o coordenador de Desenvolvimento Energético do Estado do Rio Grande do Norte e Gestor de projetos da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (SEDEC), Hugo Fonseca, ressaltou que o Estado é considerado uma das regiões do mundo com maior competitividade para a produção e exportação de energias por meio do hidrogênio verde, além de possuir alto potencial de eólica offshore em áreas de baixa profundidade e próximas da costa, assim como uma infraestrutura offshore possível de ser reutilizada para a produção e transporte de hidrogênio verde (plataformas de petróleo e gasodutos).

 

O painel foi moderado pelo diretor-presidente do Cerne, Darlan Santos.

 

SAIBA MAIS

A equipe do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) pesquisa rotas sustentáveis de produção de hidrogênio há mais de 10 anos e tem estudos pioneiros no Brasil sobre o potencial de produção de energia eólica offshore, com diversos projetos na área em curso atualmente.

 

O Instituto é a principal referência do SENAI no Brasil em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) em energia eólica, solar e sustentabilidade.

 

Já o Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER), que assim como o ISI-ER está sediado no Hub de Inovação e Tecnologia do SENAI-RN, em Natal, foi escolhido pelo Departamento Nacional do SENAI como centro de excelência e coordenador nacional de projeto em parceria com a entidade alemã de cooperação GIZ, para desenvolver infraestrutura, metodologias e cursos para formação de profissionais que irão atuar na cadeia produtiva do hidrogênio, no país.

 

*Com informações do ISI-ER e do Cerne.